Thinkers em Ação
Raphael Neves
Diretor Científico do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Professor Adjunto de Direito Constitucional na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e atual diretor científico do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Bacharel em direito (2002) e mestre em ciência política (2005), ambos pela USP. PhD (2014) em ciência política pela New School for Social Research em Nova York, e ex-bolsista Capes/Fulbright. Durante o doutorado suas áreas de concentração foram: teoria política (major, aprovado with honors) e política comparada (minor).
CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
O Cebrap é um centro de pesquisa globalizado, mantendo parcerias internacionais com institutos, universidades, agências de fomento e associações civis de diversos países, como EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Índia, China, México, África do Sul, entre outros. Reconhecido como o 37º melhor think tank do mundo na área de políticas públicas, segundo ranking da Universidade da Pensilvânia (2016), o Cebrap realiza pesquisas de impacto tanto subsidiando a formulação de novas políticas como contribuindo no monitoramento e na produção de indicadores para avaliação de ações públicas.
ENTREVISTA
Raphael Neves
Diretor científico do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)
17 de dezembro de 2022Oriana White
MODERADORA
Juliana Lotti
TRANSCRIÇÃO
TORNAR-SE INTERNACIONAL INCLUSIVE NA CAPTAÇÃO
O quarto e último desafio é manter uma internacionalização que o Cebrap já tem.
Eu falei do projeto com a Alemanha.
Enfim a gente tem uma série de parcerias, com instituições da Inglaterra, França, México, Argentina, também para falar aqui da América Latina, então isso é sempre uma preocupação, como que a gente se insere no mundo, como a gente cria redes de pesquisa.
Eu falei Reino Unido, mas tem um projeto que envolve Reino Unido, Índia e África do Sul.
O Brasil acaba sendo muito relevante para quem está olhando para as relações no hemisfério sul.
Então o Cebrap se coloca, felizmente, numa rede de instituições e o desafio é se manter nela, continuar fazendo esse tipo de pesquisa e de inserção que a gente tem.
Transcrição Integral
TÓPICOS DA ENTREVISTA
- Um pouco sobre Raphael Neves
- A importância da discussão científica
- Um Think Tank presente na vida política do Brasil
- Pensando do futuro das profissões para cidades inteligentes
- A construção de projetos pelo Brasil
- Fundamental é divulgar o que se produz
- Os três níveis necessários de comunicação
- Material ajustado para o próprio site
- Grande desafio: cenário de incertezas
- A redução dos recursos
- A importância de uma comunicação profissional
- Tornar-se internacional, inclusive na captação
- Influindo nas políticas públicas
- O começo do caminho
- Trabalhar com Políticas Públicas requer expertise
- Os passos mais importantes para um Think Tank
1. UM POUCO SOBRE RAPHAEL NEVES
Meu nome é Rafael Neves, eu sou doutor em ciência política pela New School for Social Research em Nova York.
Atualmente sou professor de direito constitucional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e atualmente sou diretor científico do Cebrap.
Eu cheguei no Cebrap já faz um bom tempo, quando eu ainda estava na graduação em direito na USP.
No segundo ano de faculdade, em 1999 eu fui convidado para ser integrante de um núcleo que estava se formando no Cebrap, que é o Núcleo Direito e Democracia.
É um projeto que envolvia 2 professores do Cebrap, o Ricardo Terra, professor de filosofia da USP e o Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp, que hoje é o presidente do Sebrae.
Eu fui chamado, fiz parte de um projeto temático que tinha financiamento da Fapesp, um projeto interdisciplinar que envolvia direito, tinha gente de economia, filosofia.
É um projeto que foi sendo renovado, a gente tem um grupo que ainda tem gente dessa época.
Na época eu era estudante. Eu me afastei um pouco do Cebrap quando fui fazer doutorado fora, aí voltei pro Brasil e eu, hoje, também estou nesse Núcleo Direito e Democracia.
A gente tem também um projeto temático financiado pela Fapesp e além disso estou num outro núcleo que é o Núcleo de Religiões Contemporâneas da professora Paula Monteiro antropologia da USP, que estuda liberdade religiosa, questões de pluralismo religioso.
O Cebrap é minha segunda casa, quase que a primeira.
O Cebrap reúne gente de várias áreas, tem essa característica de ser uma instituição multidisciplinar.
A gente tem pesquisas ali que são realizadas e que envolve gente de várias áreas.
É uma coisa, que infelizmente, eu não sei nem se, hoje, a universidade Brasileira consegue reunir tanta gente diferente, de tantas instituições, a gente tem essa tradição do Cebrap.
Ele foi fundado em 1969, a história é um pouco conhecida, mas vale repetir, por professores que tinham sido aposentados compulsoriamente, durante o regime militar, e que para continuar suas pesquisas, acabaram criando o Cebrap.
Então o Cebrap mantém um pouco esse espírito de gente de diferentes áreas, que mantém um certo diálogo acadêmico, científico.
Hoje eu sou diretor científico, há mais de 3 anos, agora eu não lembro de cabeça, porque eu comecei na primeira gestão do Marcos, a gestão da diretoria do Cebrap dura 2 anos.
Ele me convidou para ser um coordenador dos seminários da casa e aí depois o diretor científico teve que sair, então eu acabei assumindo a diretoria científica e aí o nosso mandato vai até maio do ano que vem, então vai dar um pouco menos de 4 anos.
2. A IMPORTÂNCIA DA DISCUSSÃO CIENTÍFICA
Eu acho que é bem importante, o Cebrap, ao longo da sua história, tem contribuído muito para uma discussão científica, acadêmica, bastante séria, bastante relevante para o país.
Vou falar um pouquinho de história: o Cebrap reuniu gente que durante o processo de redemocratização do país foi muito importante para pensar.
3. UM THINK TANK PRESENTE NA VIDA POLÍTICA DO BRASIL
Tem um programa, na época o MDB, que eram dois partidos, o período da ditadura, que foi montado dentro do Cebrap, então tem figuras que saíram do Cebrap.
O próprio Fernando Henrique Cardoso que é um dos fundadores, virou presidente da República.
O Cebrap sempre teve uma participação muito ativa na vida política, mas não necessariamente para fazer aquela política direta, da linha de frente, ali da militância e tal, não é isso.
É mais para pensar questões, propor projetos e hoje o CEBRAP continua tendo bastante relevância, a gente tem muita atuação na área de políticas públicas, de pensar políticas públicas de até mesmo avaliar políticas.
Só para dar um exemplo, não faz muito tempo, um pesquisador do Cebrap, Thomas Wissenbach, elaborou, no âmbito de um projeto financiado pela ONU, um índice de desenvolvimento das cidades, foi um negócio que teve um impacto tremendo, saiu em jornais.
O Cebrap fez parte de um projeto de rede de pesquisa solidária, durante esse período da pandemia, a gente contribuiu com alguns boletins, mostrando.
Teve uma repercussão que foi capa até de alguns jornais de estudos, mostrando como a população negra foi mais impactada pela pandemia,
Dois núcleos que foram criados recentemente, que é o Núcleo Afro Cebrap, que estuda políticas antirracistas, antidiscriminatórias também, tem uma atuação enorme.
Um núcleo que foi criado recentemente, que já cresceu pra caramba, o Núcleo Cebrap Sustentabilidade, estuda questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, também tem feito contribuições enormes, pesquisa sobre o impacto do agronegócio no país.
Então se a gente olhar só um pouco o que sai no debate público já é enorme, e aí claro, tem aquilo também que não sai, que é a parte de formação, como eu falei, quando entrei no Cebrap, eu tinha 18 anos, eu era um estudante de segundo ano de da faculdade, aquilo ali deu a minha pesquisa de iniciação científica, saiu por causa da discussão que eu tinha no Cebrap.
Depois o meu mestrado saiu dali eu só fui fazer doutorado fora porque eu tinha uma bagagem que eu adquiri do Cebrap.
Claro que isso não vai aparecer em lugar nenhum, mas para minha trajetória teve um peso gigantesco e até hoje o Cebrap continua fazendo isso.
Recentemente foi criado o Cebrap Lab, já tem alguns anos, mas da história do Cebrap é algo relativamente recente, que promove cursos para ensinar ferramentas de análise de dados, principalmente para cientistas sociais, um sucesso tremendo, ajuda a formar esse pessoal.
Então acho que o Cebrap tem esse papel de formação, de discussão de políticas públicas no país, acho que é muito grande, então acho que é bem relevante.
4. FUNDAMENTAL É DIVULGAR O QUE SE PRODUZ
O primeiro, o mais importante material de divulgação, é a Revista Novos Estudos, que este ano completou 40 anos.
Uma revista acadêmica de 40 anos, não é pouca coisa, uma revista que para várias áreas Qualis ela é A1, antropologia eu sei que é A1, direito que é a minha área, é A2, então ela pega os tratos bem elevados.
É uma revista que é mantida graças a uma doação, uma parceria e generosidade da Fundação Carlos Chagas, então isso permite que a gente tenha uma revista impressa, até a parte gráfica visual da revista é belíssima, tem um processo de revisão, de diagramação, tudo isso assim de altíssima qualidade e que já está aí há 40 anos e ela está totalmente disponível.
O site da revista tem lá todos os PDFs, tudo online, ela está no SciELO, e fora isso claro que a gente tem divulgação, como eu falei, nos meios de imprensa.
5. OS TRÊS NÍVEIS NECESSÁRIO DE COMUNICAÇÃO
O Cebrap hoje tem uma área de comunicação bastante dinâmica, tem uma equipe, porque a gente sabe que a comunicação científica é quase tão importante quanto o trabalho científico.
Não adianta você fazer um trabalho e aquilo não aparecer.
Então basicamente eu digo que a gente poderia falar que tem 3 níveis de comunicação: a comunicação científica mesmo, que é aquele artigo acadêmico científico, feito para a comunidade de pares ali acadêmicos, que não vai chegar ao grande público.
A gente tem o que chega no grande público, que são as matérias que saem nos jornais.
Também o Cebrap ajuda a traduzir e chegar isso na grande imprensa, então esse é um trabalho, também importante, não é trivial, às vezes o acadêmico não sabe se comunicar, ele fala no “tequininês” da área dele.
Ele tem que ter um trabalho de mediação e a comunicação tem feito isso, por exemplo eu falei de sustentabilidade de pesquisa sobre o agronegócio, saíram matérias no valor econômico sobre pesquisas do núcleo, isso pra gente é muito gratificante e aí eu acho que tem um nível intermediário e, como diretor científico, vejo que tem crescido bastante.
E o terceiro são as publicações de médio alcance, cada vez mais, os núcleos procuram produzir boletins com uma certa periodicidade mensal, que são boletins não tão acadêmicos, você não tem um paper acadêmico, mas também não a publicação de jornal, então quer dizer, o boletim é para um público que acompanha um pouco mais de perto, mas que não é necessariamente especialista.
O próprio núcleo Afro tem feito boletins.
A gente tem um núcleo de acompanhamento de política externa brasileira que também produz boletins e tudo isso está no site do Cebrap/
Aliás o site foi reformulado recentemente, até para dar mais espaço, mais visibilidade, para essas publicações de meio alcance.
6. MATERIAL AJUSTADO PARA O PRÓPRIO SITE
Não é automático passar para outro site, então vou te dar um exemplo muito simples, esses boletins, a pessoa vai lá e faz em PDF, só que quando vai colocar no nosso site, a gente tem tipo uma roleta, um carrossel com as imagens e aquilo fica passando, para dar um certo dinamismo e mostrar várias publicações.
Para colocar ali, você tem que seguir um certo tamanho que tem que ser adaptado, também para preservar a arte que foi feita para a capa daquela publicação, então isso é feito pela equipe de comunicação.
Hoje, de forma manual, não tem como ser automático, e a gente fez essa reformulação, para que o site possa ser aberto e você vai ver o site da mesma forma no computador, no celular ou no tablet.
Você pega aquele formato, coloca ali, aquilo tem que estar bonito, em qualquer aparelho, qualquer gadget, daí para transpor isso para um outro site, claro que é possível fazer, mas isso não é uma decisão minha, essa é o tipo de coisa que, a gente no Cebrap, tem um conselho executivo, tem um Board, que toma as decisões e a gente pode mandar uma proposta, a gente formaliza isso, pode tentar fazer.
Tem que lidar isso de uma forma técnica, e aí eu não sei se faz manualmente, se alguém da nossa equipe que manda para vocês ou vocês pegam no próprio site do Cebrap e reproduzem, tem que pensar como é que isso é feito.
Só para dar um exemplo de algo mais técnico, mais acadêmico, a Fapesp criou um buscador, é uma espécie de repositório para todas as instituições de São Paulo, que tem financiamento Fapesp, então alguém pública uma tese, na USP, daí a Fapesp quer que aquilo apareça no repositório da USP e no site dela, é um negócio super complexo.
A gente tentou entrar nesse buscador, mas tem que fazer uma adaptação no sistema de repositórios que a gente tem, tem que criar na verdade um repositório, que consiga conversar com esse da Fapesp para que possa puxar automaticamente as informações.
Essas coisas, a gente tem todo o interesse, de quanto mais divulgação tiver para a gente é melhor, mas sabendo que tem essas encrencas técnicas e que precisam ser dimensionadas e resolvidas.
7. GRANDE DESAFIO: CENÁRIO DE INCERTEZAS
A gente tem um desafio, hoje, no Brasil, de ter um cenário de incertezas que para a gente é um pouco difícil.
O Cebrap é um certo gato escaldado, poderia se dizer assim, é um centro que nasce num período ditatorial no Brasil.
Cebrap é uma instituição que já sofreu atentado à bomba, quando tinha sede na Rua Bahia, no Higienópolis, então a gente fica esperto com essas coisas, não dá para ser ingênuo, a gente fica preocupado, acompanhando o que está acontecendo no país.
Acho que é um cenário de estabilidade, de uma democracia mais consolidada, sem riscos, sem se falar em intervenções disso ou daquilo outro, para a gente é um cenário ideal, sem essas turbulências ou esses riscos, então esse é o primeiro desafio, hoje, de quem faz a pesquisa no Brasil.
8. A REDUÇÃO DOS RECURSOS
O segundo desafio é sem dúvida nenhuma, financiamento.
A gente teve uma redução, um corte drástico dos financiamentos públicos de pesquisa no Brasil, então isso para o Cebrap é uma coisa, tem um impacto.
Felizmente o Cebrap conseguiu se adaptar e diversificar as suas fontes de financiamento, para não depender tanto do estado, do financiamento público, mas claro que isso é sempre um desafio, porque você aumenta as incertezas.
Você não sabe o que vai ser amanhã, se você vai conseguir ter aquele financiamento ou se não vai.
9. A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL
Eu acho que terceiro e quarto desafios, para finalizar, o terceiro é sempre a questão, que a gente estava falando antes, da publicidade da pesquisa, então é como eu vou publicizar.
E a gente está passando por um momento de muitas transformações, então essa questão dos repositórios, isso é, hoje, uma questão muito sensível.
Não é à toa que a Fapesp tomou essa iniciativa de criar um buscador, por exemplo, alguns hospitais entraram em parceria com a Fapesp e disponibilizaram dados sobre a pandemia, sobre covid, para que as pessoas possam usar aquilo, aplicar, fazer os chamados Big Data, você conseguir a partir daquela montanha de informações, extrair elementos e tirar conclusões, então lidar com esses dados, publicizar esses dados.
Isso hoje, é um desafio; como você faz, que tipo de repositório, você já vê gente no exterior assim.
O MIT tem uma plataforma, Harvard tem outra.
O Cebrap tem hoje o financiamento do governo alemão, um projeto gigante chamado Mecila e aí o Mecila tem as suas soluções para repositório de dados.
Então a gente acompanha isso, tentamos manter um certo acompanhamento e claro para não ficar para trás, saber como que a gente pode disponibilizar e tem toda a questão da proteção de dados, LGPD então a gente está se adaptando a essas mudanças.
10. TORNAR-SE INTERNACIONAL INCLUSIVE NA CAPTAÇÃO
O quarto e último desafio é manter uma internacionalização que o Cebrap já tem.
Eu falei do projeto com a Alemanha.
Enfim a gente tem uma série de parcerias, com instituições da Inglaterra, França, México, Argentina, também para falar aqui da América Latina, então isso é sempre uma preocupação, como que a gente se insere no mundo, como a gente cria redes de pesquisa.
Eu falei Reino Unido, mas tem um projeto que envolve Reino Unido, Índia e África do Sul.
O Brasil acaba sendo muito relevante para quem está olhando para as relações no hemisfério sul.
Então o Cebrap se coloca, felizmente, numa rede de instituições e o desafio é se manter nela, continuar fazendo esse tipo de pesquisa e de inserção que a gente tem.
11. INFLUINDO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
O Cebrap tem uma certa facilidade, digamos assim, pelo fato de estar em São Paulo, pelo fato de já ter sua origem muito ligada à universidade pública, paulista principalmente, e claro que isso acaba gerando uma sinergia,
Uma coisa até de gente que está envolvido em política pública, que pesquisa isso, foi um momento de desenvolvimento natural, desde a origem do Cebrap, então falar como que reproduz isso em outros lugares, vai depender do tipo de capital humano que você tem, onde você está, eu acho que cada lugar vai ter uma especificidade.
Tem instituições, na Amazônia, agora com o núcleo de sustentabilidade Cebrap, eu acompanho pesquisas, coisas que são feitas na região norte, que são espetaculares, gente que faz pesquisa de ponta, eu mesmo, na minha adolescência, morei em Mato Grosso do Sul, morei na Fronteira com a Bolívia e a Embrapa em Corumbá, era uma potência, ainda hoje é, uma coisa espetacular.
A mãe de um amigo meu de escola, era doutora pela Escócia, uma bióloga, super prestigiosa que trabalhava, é especialista em peixes da bacia do Rio Paraguai, então você tem umas joias, umas preciosidades no Brasil.
A questão é como você produz sinergia, como você localmente, tem recursos, tem material, capital humano, como você produz isso.
Claro que a gente não pode ser ingênuo, precisa de recursos, precisa de investimento, precisa de financiamento, às vezes fazer a ponte, o caminho mais natural é com o estado, mas também é muito importante fazer a ponte com organizações da sociedade civil, que tem disposição de financiar esse tipo de coisa.
Hoje a gente também tem um certo know how, a gente conhece alguns caminhos de buscar esses financiamentos, que não são só dinheiro público, isso também é uma coisa importante.
A gente viu surgir no Brasil, para dar 2 exemplos, Ibirapitanga, Serrapilheira, são coisas novas.
Tem a fundação Tide Setubal, a Fundação Ford que está muito ligada na origem do Cebrap, ela que fez o primeiro endowment, que possibilitou o Cebrap começar.
A questão, talvez para facilitar, como que conecta quem tem esse interesse, com quem pode produzir esse tipo de pesquisa, no plano geral, uma coisa recente no Cebrap, que começou no núcleo sustentabilidade, só para dar um exemplo bem concreto, bem específico, a ideia de Cátedra.
Então você às vezes tem financiadores que se propõem a financiar uma pesquisa muito específica, uma Cátedra e o Cebrap abre o edital e diz olha eu preciso de alguém, um pesquisador, que durante um ano seja capaz de produzir um paper, sobre tal assunto e abre o edital, e a gente recebe propostas, já recebemos propostas de gente do Brasil inteiro e gente extremamente qualificada, que vai receber para produzir uma pesquisa específica, sobre um assunto específico.
É um tipo de ponte que você faz entre o financiador da sociedade civil, que tem interesse e o pesquisador lá da ponta que tem tenho um trabalho que se encaixa nessa proposta que eu vou submeter e o Cebrap faz também essa intermediação.
Isso é algo que poderia ser replicado por outras instituições, Think Tanks que tem esse perfil de pesquisa, como nós.
12. O COMEÇO DO CAMINHO
Tem um elemento incontornável que é verba, o que se tem de interesse e disposição no mundo político, de financiar gente que estuda e que pensa a política pública, essa é a primeira coisa.
Existe hoje, uma coisa que me interessa particularmente, até porque eu estou ligado ao direito, teve uma emenda constitucional recente, que fala de avaliação de políticas públicas, a necessidade de avaliar políticas públicas, isso hoje é parte da nossa Constituição.
O Brasil precisa de mecanismos institucionais, legais, que force os entes públicos a avaliar suas políticas públicas e tomar decisões baseadas nessas avaliações.
Você precisa saber o que está funcionando, o que realmente está conseguindo alcançar seu objetivo e incentivar, falar, isso aqui realmente vale a pena o poder público investir ou então descontinuar, falar olha isso aqui não está funcionando.
Uma coisa interessante que o poder público poderia fazer é tentar implementar, pode ser legalmente mesmo, mecanismos jurídicos de exigir que o poder público em várias instâncias, inclusive na base, que é muito importante, prefeitura, para que possa realmente fazer a avaliação disso.
Temos exemplos, nos estados que são bem interessantes, eu falei desse índice sustentabilidade.
No Espírito Santo tem experiências muito interessantes no âmbito de avaliação de políticas públicas, de acompanhamento, isso para dar um exemplo, então assim, é pegar esses casos e tentar replicar pro país, para os estados, para os municípios que precisam também, às vezes, de corpo técnico e fazer uma ponte com os Think Tanks que pensam essas políticas, que avaliam essas políticas com os entes públicos, acho isso muito importante.
Sobe a comunicação que eu falei, para a gente também é muito relevante porque, por exemplo, se você tem um estudo, um boletim, eu tenho que fazer esse boletim chegar não só no jornal, mas tenho que chegar lá no gestor público.
Então a nossa comunicação, ela trabalha também para isso, para divulgar nossas pesquisas, para quem está com a mão na massa, pra quem está na ponta, fazendo a gestão dos recursos públicos.
O Cebrap tem uma agenda de pesquisa que é gigantesca, que é muito importante, sobre mobilidade urbana.
É muito atuante o estudo de mobilidade urbana, inclusive essas bicicletas que você vê na cidade de São Paulo, isso tem muita colaboração do Cebrap, para saber onde você coloca a estação da bicicleta, a gente tem especialistas que só discutem, só pensam em mobilidade urbana.
13. TRABALHAR COM POLÍTICAS PÚBLICAS REQUER EXPERTISE
Tem que ter muita expertise, você falou das políticas educacionais, por exemplo, o Cebrap não vou dizer que não tem, tem, mas é pouco porque é uma área que se desenvolveu tanto, tem tanta gente excelente trabalhando com política, pesquisando, trabalhando, pautando, que olha a gente implementar.
Não é só dizer vai por aqui, não, vou fazer uma força para tentar implementar, então tem tanta gente fazendo nessa área de educação, que essa é uma área que o Cebrap nem busca ocupar, porque já tem muita gente fazendo.
Então acho que tem que ter bastante expertise, acho que esse caminho, de ter uma interlocução maior com o meio político, é um caminho que o Cebrap não faz.
A gente faz a pesquisa, se eu puder comunicar isso para o gestor público e dizer isso é uma pesquisa assim e tal, se você quiser nos procurar para a gente pensar nos problemas da cidade, do estado, é claro que a gente vai fazer isso, mas o Cebrap tem um viés mais acadêmico, mais científico e mais de pesquisa mesmo.
Essa interlocução maior do mundo político, eu diria até que a gente tem um pouco, mas não é tanto.
Acho importantíssimo quem faz isso, acho que tem uma certa divisão do trabalho, acho que tem alguns papéis que talvez o Cebrap faça melhor e outros, outras instituições vão fazer melhor.
Eu te dei meu exemplo de formação, não sei se um Think Tank desse vai pegar um aluno de graduação, que está trabalhando num projeto com seu orientador, ali dentro do Cebrap, que vai se formar e depois vai fazer mestrado na USP ou na Unifesp, na Unicamp e que vai desenvolver aquilo também no Cebrap.
Isso já é mais a cara do Cebrap, mas também é divisão do trabalho, que se você não pegar aquele aluno de 17, 18 anos e der uma formação para aquela pessoa, para começar a se envolver com aquilo e entender o negócio, como é que você vai formar um cara depois, experiente, de 50 anos que entende tudo daquele assunto, você não vai ter isso, então o Cebrap cumpre esse papel.
14. OS PASSOS MAIS IMPORTANTES PARA UM THINK TANK
Tem que ter bastante persistência, no Brasil é sempre difícil fazer qualquer coisa, então a gente tem de ser persistente.
O Cebrap tem fundadores, lá atrás, em 69 que foram muito persistentes, pessoas que com muita capacidade intelectual, que não desistiram, usaram algo que era para ficar em casa, aposentado, e não fazer mais nada da vida, pensou em criar alguma coisa que depois se tornou muito relevante assim pra discussão pública no país.
Então que acho persistência acima de tudo.
Acho que tem que saber avaliar bem a sua capacidade, sua expertise, ver como você pode contribuir, você precisa estar num grande centro, você não precisa estar na metrópole, no Sudeste, tem inúmeros casos de pessoas que fazem trabalhos excepcionais, em diferentes regiões do paí, então eu acho que tem que realmente estar atento para as oportunidades que surgem localmente, acho que seria uma segunda coisa.
A terceira, não é um conselho, tem que ter um pouco de sorte, no sentido de você tem que ver as oportunidades, tem que estar muito ligado, às vezes tem opções de financiamento, a gente tem que ser realista, a gente realiza a coisa, você precisa de financiamento para fazer.
Tem que estar muito aberto, muito atento, também, no tipo de oportunidade que você pode ter e hoje existem várias e você não tem noção, mas pode ter um edital, de uma embaixada que tem um adido cultural, um adido de abrir um edital que quer projeto numa área específica e que tem mais abertura, não está procurando gente só no Sudeste, quer gente de outros lugares, com coisas novas.
E aquilo pode ser um começo, pode ser um financiamento que, em termos de volume, não é gigantesco, mas é aquilo que você precisa para começar, então acho que, hoje, graças à internet, tem como você ficar vasculhando essas coisas. Tem algumas plataformas, talvez seja um pouco difícil, mas alguns lugares que concentram essas oportunidades, então tem um mapeamento dessas oportunidades, quem está disposto a financiar o que, é muito importante.