Thinkers em Ação

André Gomyde

Presidente Executivo

Presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis. Mestre em administração pela FCU, nos Estados Unidos e mestrando em arquitetura e urbanismo pela UnB. É autor de cinco livros.


Ibrachics

O Ibrachics é o principal polo de pesquisas e desenvolvimento de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis da América Latina. Atua nas cidades de maneira multissetorial integrada, com foco simultâneo nas cinco camadas: Pessoas, subsolo, solo, infraestrutura tecnológica e governança. É um modelo completo, com início, meio e fim. Escalável que vai sendo feito passo a passo com as prefeituras, respeitando sua capacidade financeira.


ENTREVISTA

André Gomyde

Presidente Executivo

16 de novembro de 2022

Oriana White

MODERADORA

Juliana Lotti

TRANSCRIÇÃO

 

IMPORTANTES RECURSOS FINANCEIROS EXISTEM PARA QUEM TEM UM PLANO DE NEGÓCIO BEM ELABORADO


Existe recurso disponível hoje no mundo para fazer bons projetos? Existe! Eu conheço vários fundos aqui mesmo na união europeia, nessas reuniões que tive semana passada, eles me mostraram 6 fundos que têm dinheiro disponível, você tem investidores, homens que são muito ricos, a própria Fundação Bill Gates, você tem Warren Buffett, você tem o Elon Musk.

Eles colocam dinheiro nesses fundos e alguns são a fundo perdido, fazem aquilo como uma questão social, outros querem colocar o recurso e querem ter um retorno sobre o investimento, mas independentemente do que queiram fazer, existe uma questão, eu vivi isso na pele quando era presidente da CDV lá em Vitória, o prefeito queria fazer um oceanário, então eu fui lá para os Estados Unidos conversar com o pessoal do SeaWorld, para ver se eles colocavam dinheiro no oceanário.

Olha só a cabeça do brasileiro, o que eu queria naquele momento, o prefeito queria naquele momento, que a gente fosse buscar um recurso para pagar o projeto, os estudos, e quando eu cheguei lá ele falou olha é muito bacana sua ideia, aliás os brasileiros são os que têm as melhores ideias do mundo, só que são também os únicos que chegam aqui sem um plano, um estudo: qual a taxa de retorno nesse negócio, quanto tempo vai durar, ou seja um plano de negócios, e aí ele falou se você não investe o dinheiro nem no estudo, quer dizer, se você não acredita no seu negócio nem pra botar um dinheirinho pra estudar o negócio, para fazer um plano de negócio; Por que eu vou acreditar no seu negócio? Esse recurso de longo prazo existe, agora nós precisamos aprender a planejar.

Tem uma cidade nos EUA, que se chama Chattanooga, eu sempre uso ela como exemplo, era uma cidade que estava entrando em decadência, lá no início do século 20, envelhecendo, os jovens indo embora, não queriam mais ficar lá, um problema seríssimo com o minério de ferro, eles fizeram um plano estratégico para a cidade, de 50 anos, mudar a matriz econômica da cidade e hoje é uma cidade extremamente sustentável, uma das melhores cidades dos Estados Unidos. Tem música própria, criaram um oceanário que recebe cinco milhões de turistas estrangeiros por ano, só o oceanário, quer dizer, o Brasil todo recebe dez milhões de turistas estrangeiros, então isso é planejamento.

Outro exemplo, tem um terremoto no Japão, em dois dias tem ponte gigantesca, por quê, porque está tudo planejado, tudo escrito. Ou seja, eles gastam 80% do tempo planejando e 20% do tempo bem executando, no Brasil a gente faz o contrário, a gente gasta 20% do tempo mal planejando e 80% do tempo não executando, porque quem não planeja, não executa.

A gente precisa acertar no Brasil, essa coisa de pensar a longo prazo, de planejar, de se organizar, se estruturar para a questão de acessar esses recursos de longo prazo.

Transcrição Integral


TÓPICOS DA ENTREVISTA


  1. Uma formação plural para resolver questões complexas
  2. Construindo metodologias inovadoras e publicando-as em livros
  3. A tecnologia invandindo as cidades, faz da organização da informação algo fundamental
  4. Pensando do futuro das profissões para cidades inteligentes
  5. A construção de projetos pelo Brasil
  6. Formulando políticas públicas desde dentro
  7. Os desafios do brasil ainda são do sec. XX
  8. Importantes recursos financeiros existem para quem tem um plano de negócio bem elaborado
  9. Comunicação e tecnologia da informação para cidades lotadas de dados
  10. Sugestões para novos think tanks começarem com o pé direito

1. UMA FORMAÇÃO PLURAL PARA RESOLVER QUESTÕES COMPLEXAS

Eu tenho uma carreira que eu trabalhei tanto no setor público quanto no setor privado, então tenho experiência nos 2 setores. Trabalhei no Governo Federal, no Congresso Nacional, em Governo do Estado, Prefeituras, fui dirigentes de empresas públicas, depois trabalhei em grandes empresas multinacionais e no setor privado tem também um background acadêmico bastante interessante.

Sou formado em administração, fiz mestrado nos Estados Unidos, em Business administration, tenho pós-graduação no Ibmec e agora estou fazendo um segundo mestrado em arquitetura e urbanismo na Universidade de Brasília. Fiz pós-graduação em psicanálise, indústria 4.0.

Com isso publiquei livros e me interessei muito pelo tema das cidades inteligentes. Em 2010 publiquei 5 livros sobre esse assunto e em 2012 eu assumi a presidência da companhia de desenvolvimento de Vitória. É uma empresa pública municipal e por conta disso eu acabei sendo eleito presidente de um fórum nacional de secretários municipais de ciência e tecnologia dentro da frente nacional de prefeitos, então nós pegamos esse fórum, e como o tema das cidades inteligentes estava começando a explodir no mundo todo, a gente transformou esse fórum em rede Brasileira de cidades inteligentes e humanas.

Já entrava a palavra humanos por conta de um conceito europeu que eles percebiam que só a colocação de tecnologia nas cidades não funcionava, precisava ter um envolvimento das pessoas, então fizemos isso até 2017 e a partir daí a gente saiu da frente nacional de prefeitos e criou então o Ibrachics - Instituto Brasileiro das Cidades Humanas Inteligentes Criativas e Sustentáveis.

E muito mais que um nome, é um conceito que veio sendo trabalhado ao longo desses anos, de compreender. A gente observou muito o que foi falado no fórum econômico de Davos em 2016, essa questão da economia criativa, da sustentabilidade, então a gente colocou que a cidade tem que ser inteligente porque as tecnologias estão presentes, com foco nas pessoas, trabalhando a questão da economia criativa e da sustentabilidade, mas eu queria só dar um foco na economia criativa, porque isso faz com que a cidade inteligente não seja um modelo que você possa replicar para qualquer cidade, porque cada cidade tem suas particularidades, suas idiossincrasias e através da economia criativa você detecta isso muito bem.

Você vê que cada cidade tem um modo de fazer as suas coisas, tem a sua cultura, então a gente desenvolveu uma metodologia para ser aplicada nas cidades, que se adapta para a realidade de cada uma. Por conta disso a gente acabou estabelecendo uma parceria com a união europeia, motivo inclusive pelo qual estou aqui na Europa, tive reunião agora na semana passada com 2 ministros da união europeia.

A gente tem estabelecido conexões muito interessantes entre a união europeia e o Brasil, através do Ibrachics e a gente acabou trazendo instituições como a USP a UNB, nomes como Jaime Lerner, que faleceu o ano passado, mas estava com a gente, a equipe dele continua com a gente, o Cristovam Buarque que foi ministro da educação está no nosso instituto, a Ana Carla Fonseca que é uma sumidade nessa área de economia criativa, o Clóvis de Barros Filho, filósofo também está no nosso time, enfim nós temos hoje um timaço no instituto com uma metodologia muito interessante, muito revolucionário e reformadora.

Essa é um pouco a minha história, um pouco da história do Ibrachics, de maneira geral e só pra finalizar, quero dizer que a gente acaba sendo esse Think Tank em que a gente junta cabeças do setor público, quer dizer secretários de ciência e tecnologia das cidades, com pessoas comuns, que são da academia e com grandes nomes também, então a gente faz essa mescla de discussão, pegando desde a pessoa comum, mais simples, entendendo como é a vida dela no dia a dia, para gente poder implementar o desenvolver a metodologia para ela, para a cidade dela, ouvindo a experiência dessas pessoas que são reconhecidas internacionalmente.

Para a gente é um prazer muito grande estar aqui falando com vocês, da Thinkers Brasil. Eu acho que é uma iniciativa fantástica reunir os Think Tanks e começar a fortalecer isso no Brasil, porque a gente vê que o resultado realmente é fantástico.


2. CONSTRUINDO METODOLOGIAS INOVADORAS E PUBLICANDO-AS EM LIVROS

Está disponível sim o nosso livro, conta as metodologias. Nós publicamos o livro em 2018, então de lá para cá, a gente incluiu novas coisas, é um processo dinâmico, está sempre melhorando, sempre ampliando e está disponível, mas são metodologias registradas pelo Ibrachics, são de propriedade intelectual do Ibrachics.

A gente dá sim consultoria para as cidades, para empresas. Tem a questão da interoperabilidade que não é só tecnológica, mas essa interoperabilidade do trabalho das pessoas também, a gente está sempre agregando atores locais, a gente faz a transferência de conhecimento para o município que nos contrata.

O nosso livro está disponível em PDF, gratuitamente para quem quiser, você pode distribuir à vontade desde que citadas as fontes, os autores, porque a gente acha que o conhecimento tem que ser espalhado.

Claro que determinados conceitos e determinadas metodologias mais específicas, por serem muito técnicas e para que não corra o risco de que alguém implemente aquilo de uma forma errada e isso possa estragar a metodologia, por conta de uma ação errada, a gente exige no mínimo a supervisão do Ibrachics.

Por exemplo, se você disser que tem um cliente, prefeitura e quer aplicar sua metodologia, tem problema nenhum, você vai aplicar, vai ganhar o seu dinheiro, está tudo certo, desde que você converse com a gente, que a gente supervisione isso, para você usar a metodologia, usar o nome da Ibrachics, você vai ser supervisionado para a gente não correr o risco de sair da linha que a gente acredita.

O livro chama-se “O futuro é das Chics” e está disponível hoje na Amazon para quem quiser comprar e ler no Kindle, agora se você entrar no site da USP é só pôr na internet “o futuro da Chics” e você vai encontrar várias versões em PDF, fazer download, não tem problema nenhum se você gosta de ler em PDF.


3. A TECNOLOGIA INVANDINDO AS CIDADES, FAZ DA ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ALGO FUNDAMENTAL

Essa questão da tecnologia invadiu a vida das pessoas, invadiu as cidades, os governos, a gente está vendo nesse processo eleitoral, essa questão das chamadas fake news, que rolam de um lado e de outro, não estou aqui defendendo nem um lado nem outro, mas é muita informação, são muitos dados, muitas empresas coletando os nossos dados e a gente não sabe mais o que é verdade, o que que é mentira.

Organizar isso é fundamental para que a sociedade volte à normalidade, que a gente acalme as pessoas, que a gente volte a uma estabilidade institucional, social, econômica, então organizar as cidades de maneira que as pessoas comecem a ter uma coisa chamada literacia digital que é quando a gente fala a língua, é fácil entender.

Nós temos literacia na língua portuguesa, significa que as coisas da língua portuguesa, para gente, são muito naturais, então se eu quero xingar alguém, eu xingo em português, se eu quero expressar uma emoção, eu expresso em português. Eu falo inglês fluentemente na hora que eu estou numa discussão e eu resolvo xingar a pessoa no inglês, você acaba xingando em português, isso é literacia, quer dizer aquela coisa que está dentro de você, enraizada.

Quando a gente fala de literacia digital, quer dizer pessoas da nossa geração não tem literacia digital, a gente sabe usar, a gente vai, mexe com WhatsApp, mas isso não é para a gente uma coisa natural, nós somos ainda da era analógica, já a minha filha que tem 8 anos, nasceu na era digital, então ela já tem a tal da literacia digital, ela nem sabe o que é o analógico.

E como a tecnologia está nas cidades a gente precisa levar essa literacia digital para as pessoas. A gente vê, em banco por exemplo, hoje os bancos estão todos digitalizados e muita gente ainda sofre golpe, muita gente ainda tem dificuldade de tirar um dinheiro no caixa porque não tem literacia digital, então isso tem muito a ver com educação, por isso o professor Cristovam Buarque está com a gente, fazemos essa discussão com ele sempre, como é essa educação do século 21, essa educação no mundo digital, como que a gente pode instruir as nossas crianças e aí eu pego você falando do Domenico De Masi, eu gosto muito dele, é um grande pensador.


4. PENSANDO DO FUTURO DAS PROFISSÕES PARA CIDADES INTELIGENTES

Uma vez vi uma entrevista dele falando isso: quer dizer a gente não sabe quais serão as profissões do futuro? Então como preparar a nossa sociedade, como preparar as nossas crianças para trabalharem numa profissão que eu não sei qual é, então ele cita 5 capacidades que a gente tem que dar para as crianças, que é a literacia na sua língua mãe, quer dizer falar sua língua mãe com muita propriedade, para que você consiga ler, se comunicar e interpretar.

Falar a língua inglesa quase tão bem quanto você fala sua língua mãe, para você poder se conectar no mundo todo, entender de filosofia, porque para você raciocinar, para você não cair nas fake news, matemática para ter o raciocínio lógico e naturalmente de informática, essa coisa de análise de sistemas, a parte de digitalização.

Então ele coloca essas competências e eu, como sou um cara metido, nas minhas palestras eu falo sempre das 5 competências do Domenico, mas eu incluí mais uma que eu acho muito importante que é essa coisa do compartilhamento, uma atividade lúdica, a criança fazer um teatro ou um cinema, tocar algum instrumento, uma música ou jogar algum esporte, de uma maneira que ela possa também ter uma convivência com outras crianças, que ela possa desenvolver sua criatividade.

Se a gente trabalhar essas 6 competências nas cidades e nas pessoas, junto de todo esse cuidado de que a tecnologia não vire um monstro nas nossas vidas, eu reputo a importância de um trabalho como o nosso, ao longo desses 13 anos e que a gente continua levando cada vez mais essa mensagem especialmente no Brasil, porque na Europa isso já é bastante resolvido.

Pegar essa experiência e colocar no Brasil para que nosso país possa efetivamente entrar no século 21. O Ibrachics tem essa de ajudar o país nessa tarefa de entrar no século 21 definitivamente.


5. A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PELO BRASIL

Primeiro nós temos 3 linhas de atuação: a gente tem um núcleo de estudos e pesquisas que é registrado no CNPq que é essa parceria nossa com a Universidade de Brasília e com a USP, na UNB através do Pisac (Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído), com a USP através da Escola Politécnica da USP.

Nesse núcleo tem vários doutores e pós doutores que fazem pesquisas da área de cidades inteligentes, na área de tecnologia, na área de urbanismo, na área humana, na área de gestão, então esse é um braço, depois temos o braço de consultoria que é mais de negócios, que a gente tem atuado.

Fizemos através dos nossos especialistas, por exemplo, Carlos Passos que é um dos nossos dirigentes, fez o plano mestre de cidades inteligentes na cidade de Campinas, que é considerado hoje o melhor do Brasil. Também estivemos em Joinville, na época do prefeito Udo Döhler. Fizemos um trabalho super reconhecido em Vitória no Espírito Santo. Trabalhamos recentemente com a cidade da Serra, também no Espírito Santo, agora estamos trabalhando com Cachoeiro de Itapemirim, fizemos lá no Ceará.


6. FORMULANDO POLÍTICAS PÚBLICAS DESDE DENTRO

Temos um terceiro braço que é mais de relações institucionais, por exemplo nós somos hoje uma das 6 instituições que fazem parte do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, o que não tem nada a ver com o presidente da República, é uma coisa institucional, esse conselho foi criado na Constituição e ele coloca 6 instituições, nós somos uma delas, a outra é a sociedade Brasileira para o Progresso da ciência, academia Brasileira da ciência etc.

A gente tem também esse trabalho institucional de ajudar a formular políticas públicas para o país, então são essas 3 vertentes e a gente também lida com iniciativa privada, então tem muitas associações do setor privado na área de tecnologia, tivemos algumas boas conversas com o pessoal da associação das empresas de trem, então a gente sempre está dialogando.

Tem esse braço institucional, o braço da consultoria e o braço do núcleo de estudos e pesquisas.


7. OS DESAFIOS DO BRASIL AINDA SÃO DO SEC. XX

Eu não colocaria muito como meus principais desafios, porque a gente tem uma visão no Ibrachics, que a gente se doa muito. Eu estou há 13 anos nesse negócio e se você for ver quanto eu já ganhei de dinheiro com consultoria, é praticamente nada, é uma doação mesmo. A gente faz com paixão, então não é tanto para mim ou para o Ibrachics.

O Brasil é um país que, mesmo no ano de 2022, quer dizer nós já estamos na terceira década do século 21, ainda não resolvemos a agenda do século 20, que é ter uma política industrial forte, ter saneamento para as pessoas, ter infraestrutura tecnológica nas cidades, ter uma infraestrutura de logística apropriada para o país.

Quando a gente fala de infraestrutura é um negócio que as pessoas, às vezes, não têm muita noção, mas se você parar para pensar, o preço do grão na porta da fazenda no Brasil é mais barato do que o preço do grão na porta da fazenda nos Estados Unidos, no entanto o preço do grão nos Estados Unidos, lá no porto, é mais barato do que o grão do Brasil no porto, quer dizer que eles têm uma infraestrutura logística fantástica e nós não temos.

A gente precisa resolver esse problema de logística, a infraestrutura de tecnologia na cidade, a gente precisa resolver a questão do saneamento, a questão da saúde, a questão educacional do Brasil, nós estamos muito atrasados.

O Brasil ainda não resolveu a agenda do século 20, está enfrentando o desafio de ter que conviver com a agenda do século 21, que é muito rápida, muito intensa, a gente precisa trabalhar a agenda do século 20 e do século 21 ao mesmo tempo.

O grande desafio como nós, que estamos já nessa visão e trabalhando com a agenda do século 21, conseguimos chegar para o governo e dizer: “olha a gente entende que o país tem que fazer a agenda do século 20, mas nós precisamos investir aqui também, porque se não, na metade do século 21 a gente resolve a agenda do século 20 e quando a gente chegar no século 22 e assim o Brasil, país nunca avança.

Essa iniciativa do Thinkers Brasil, eu acho fundamental, a gente começar a criar esses debates entre as nossas instituições, como cada um pode ajudar, de repente a gente formular uma grande política pública para apresentar para o governo, fazer isso de forma conjunta, a gente tem o Cristovam por exemplo, que pode ajudar muito a gente nisso, ele está sempre a fim de fazer, o Clóvis de Barros Filho são pessoas que podem usar, junto com o Stephen Kanitz, são pensadores e que podemos, juntos, construir essa política.

Acho que é esse o nosso desafio, quando eu falo que não é só do Ibrachics, é o desafio de todos nós que estamos aí para ajudar, para compor vocês uma aliança, para a gente ver se o Brasil avança bem, daqui para frente.


8. IMPORTANTES RECURSOS FINANCEIROS EXISTEM PARA QUEM TEM UM PLANO DE NEGÓCIOS BEM ELABORADO

Existe recurso disponível hoje no mundo para fazer bons projetos? Existe! Eu conheço vários fundos aqui mesmo na união europeia, nessas reuniões que tive semana passada, eles me mostraram 6 fundos que têm dinheiro disponível, você tem investidores, homens que são muito ricos, a própria Fundação Bill Gates, você tem Warren Buffett, você tem o Elon Musk.

Eles colocam dinheiro nesses fundos e alguns são a fundo perdido, fazem aquilo como uma questão social, outros querem colocar o recurso e querem ter um retorno sobre o investimento, mas independentemente do que queiram fazer, existe uma questão, eu vivi isso na pele quando era presidente da CDV lá em Vitória, o prefeito queria fazer um oceanário, então eu fui lá para os Estados Unidos conversar com o pessoal do SeaWorld, para ver se eles colocavam dinheiro no oceanário.

Olha só a cabeça do brasileiro, o que eu queria naquele momento, o prefeito queria naquele momento, que a gente fosse buscar um recurso para pagar o projeto, os estudos, e quando eu cheguei lá ele falou olha é muito bacana sua ideia, aliás os brasileiros são os que têm as melhores ideias do mundo, só que são também os únicos que chegam aqui sem um plano, um estudo: qual a taxa de retorno nesse negócio, quanto tempo vai durar, ou seja um plano de negócios, e aí ele falou se você não investe o dinheiro nem no estudo, quer dizer, se você não acredita no seu negócio nem pra botar um dinheirinho pra estudar o negócio, para fazer um plano de negócio; por que eu vou acreditar no seu negócio? Esse recurso de longo prazo existe, agora nós precisamos aprender a planejar.

Tem uma cidade nos EUA, que se chama Chattanooga, eu sempre uso ela como exemplo, era uma cidade que estava entrando em decadência, lá no início do século 20, envelhecendo, os jovens indo embora, não queriam mais ficar lá, um problema seríssimo com o minério de ferro, eles fizeram um plano estratégico para a cidade de 50 anos, mudar a matriz econômica da cidade e hoje é uma cidade extremamente sustentável, uma das melhores cidades dos Estados Unidos. Tem música própria, criaram um oceanário que recebe cinco milhões de turistas estrangeiros por ano, só o oceanário, quer dizer, o Brasil todo recebe dez milhões de turistas estrangeiros, então isso é planejamento.

Outro exemplo, tem um terremoto no Japão, em dois dias tem ponte gigantesca, por quê, porque está tudo planejado, tudo escrito. Ou seja, eles gastam 80% do tempo planejando e 20% do tempo bem executando, no Brasil a gente faz o contrário, a gente gasta 20% do tempo mal planejando e 80% do tempo não executando, porque quem não planeja, não executa.

A gente precisa acertar no Brasil, essa coisa de pensar a longo prazo, de planejar, de se organizar, se estruturar para a questão de acessar esses recursos de longo prazo.


9. COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO PARA CIDADES LOTADAS DE DADOS

A segunda questão é a da comunicação, e a gente só resolve esse problema com literacia digital para as pessoas, educação para as pessoas, infraestrutura tecnológica na cidade, para que essa quantidade enorme de dados, esse big data possa estar disponível para a população, mas é estar disponível com as pessoas bem-educadas e com literacia digital.

Sabendo como utilizar esse aparato, essa quantidade de informações, de dados, porque quando você junta dados e informações de uma forma correta, você gera conhecimento e é isso o que a gente precisa.

O setor público é o que há de mais atrasado, isso é de maneira geral, e no mundo todo, o setor público é o mais lento em qualquer sociedade, muito burocrático. Normalmente o agente público, e eu posso falar isso, porque eu fui funcionário público muito tempo, minha família é de servidores públicos, então posso falar isso com a maior tranquilidade, o servidor público tem aquela coisa, eu tenho meu salário, eu tenho que fazer isso, cumprir minha meta, eu faço e pronto; é muito difícil você encontrar alguém que queira ousar e principalmente no Brasil, a gente tem um problema sério, eu falo sempre assim o Brasil é o país do controle rigorosíssimo e da punição frouxa, então está tudo errado.

A gente tem Ministério público, tribunal de contas, primeira instância da justiça, superior tribunal de justiça, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, as agências reguladoras, é muita regulamentação, muito controle e quando o cara é pego fazendo alguma coisa errada, não acontece nada.

A gente tem que inverter, isso gerou no Brasil um negócio chamado apagão das canetas. Os dirigentes públicos têm medo de assinar porque qualquer coisa que eu assino aqui, se lá do tribunal interpretarem de uma forma um pouquinho diferente, eu estou lascado e depois que eu sair daqui eu tenho que pagar o advogado do meu bolso, quer dizer o setor público não veio me defender, então por mais que o cara seja bem-intencionado, ele não quer assinar mais nada, e isso a gente chama de apagão das canetas e isso faz com que o setor público fique travado.

O desafio do empreendedor, hoje eu tenho tido muito sucesso com o setor público porque eu sou aquele cara pentelho, que o governador, o prefeito, o secretário fala esse cara não sai daqui, porque eu vou, se falam que não podem eu olho a lei, volto lá, eu vi aqui na lei tem uma saída por aqui, daí vou no Ministério público, converso, volto, então se quiser fazer acontecer, é trabalhoso, é chato, mas você faz acontecer, vai empurrando, mas realmente é um defeito que a gente tem no Brasil e que também envolve educação, envolve treinamento.

Eu acho que o Brasil vem melhorando, vem avançando muito ao longo dos últimos anos, mas precisa ser mais forte nisso, então assim eu vejo que esses três desafios são bons desafios, mas acho que tem solução para eles, basta a gente se organizar e fazer acontecer.


10. SUGESTÕES PARA NOVOS THINK TANKS COMEÇAREM COM O PÉ DIREITO

Primeiro você precisa saber bem o que você quer fazer, nós queremos trabalhar com cidades inteligentes, então está muito claro para todo mundo que vem aqui para o Ibrachics, que quer trabalhar com cidades humanas, inteligentes, criativos.

É importante planejar, onde queremos chegar e acho importante também, criar um negócio que o autor Napoleon Hill, ensina que é o chamado mastermind, quer dizer como é que você convida boas cabeças para fazerem parte com você, para te ajudar e é a coisa mais fácil do mundo.

A gente precisa aprender a não ter medo de ousar, não ter medo de fazer as coisas, por exemplo, para eu falar com o Stephen Kanitz, ele nunca vai falar comigo, ele é um cara famoso, escreve livros, ele escreve artigos, dá entrevistas, eu não sei nem para onde eu ligo.

Quando eu liguei para o Jaime Lerner, a primeira vez, eu nunca tinha falado com ele, ele nunca tinha ouvido falar de mim, mas eu ninguém e disse aqui quem está falando é o André Gomyde, eu sou presidente do Ibrachics, um instituto que foi criado para desenvolver cidades inteligentes, humanas e tal, sou seu admirador e eu queria que você fizesse parte do instituto, aí fui conversar com ele, conversei com o assessor dele, o Paulo Kawahara era o braço direito dele, agora é o cara que está conduzindo o instituto Jaime Lerner, e pronto. Eles passaram a fazer parte do instituto.

Bastou ligar, então precisa saber onde você quer chegar, o que você quer fazer, ter clareza do que você vai falar, você pode ligar, eu posso ligar, é isso o que ele chama de mastermind, boas cabeças. Eu acho que esse é o segredo, se você tem uma boa ideia, quer fazer, sabe onde quer chegar, vai e faz, não fica teorizando muito, não fica com medo, será que ele vai me entender, será que não vai, será que vai ter dinheiro, será que isso, aquilo e nesse será, será, você não faz nada, então vai faz.

Você vai errar, vai quebrar a cabeça, tem hora que eu gasto um dinheiro aqui do meu bolso e agora não tenho dinheiro para comprar comida como é que eu faço, mas o gostoso de ser empreendedor é isso, você nunca sabe o que vai acontecer amanhã, então vamos viver o agora, aqui, vamos embora, vamos fazer. Eu acho que é isso é ter esse rompante de eu vou fazer, eu vou ousar, não vejo outra forma.


Muito obrigada pela entrevista!!