Thinkers em Ação
Augusto César Dall’Agnol
Presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE)
Atualmente, é Presidente (2022-2024) e ex-Vice-Presidente (2020-2022) do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) e doutorando (2019-2023) em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil (UFRGS) - Visiting Scholar (2021-2022) na Universidade de Denver.
ISAPE - Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia
É uma organização sem fins lucrativos voltada à realização de pesquisa, ensino e consultoria nas áreas de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais.
Estruturado como um think tank, o Instituto busca ampliar a inovação no estudo do cenário internacional mediante a integração de temas correlatos como política e segurança internacional, estudo da guerra, integração regional, economia, direito, filosofia e tecnologia.
Tem como missão auxiliar a elaboração de políticas públicas no Brasil e no exterior voltadas para a promoção de três princípios centrais: soberania, integração e desenvolvimento.
ENTREVISTA
Augusto César Dall’Agnol
19 de dezembro de 2022Oriana White
MODERADORA
Juliana Lotti
TRANSCRIÇÃO
A DIFICULDADE DE CAPTAR RECURSOS A LONGO PRAZO
Para projetos mais específicos ainda existe a complicação, por vezes, de como lidar com isso, através do fluxo, por onde passa esse recurso, quais são as formas, porque esse dinheiro não pode simplesmente cair na conta do instituto, então tem que ver como isso vai ser gerenciado etc.
O Isape tem como um dos seus pilares iniciais, ... que as principais verbas para manutenção, para as contas básicas do instituto, elas vêm de uma contribuição semestral dos seus associados.
Temos 3-4 níveis de associados, desde graduando, mestrando, outro de associado profissional, ... justamente para permitir duas coisas: por um lado nunca ter um momento de crise ou falta de receita, por falta de captação de recurso, então a gente capta o recurso através de pessoas que estão interessadas no instituto, que se ligam umbilicalmente às causas do Isape.
Esse é o primeiro ponto, mas esse dinheiro não sobra para executar grandes projetos ou projetos médios, é um dinheiro que simplesmente serve para manutenção básica do instituto e por outro lado isso permite que a gente seja um Think Tank independente.
Um dos pontos que a gente pode se orgulhar e dizer que independentemente de quem contribui com o instituto, a gente ainda vai ter a nossa posição independente, a gente não flexibiliza os nossos valores, que estão no nosso estatuto, em termos de uma contribuição gigantesca ou enorme.
Sempre que chega algum caso parecido com esse, a gente tem que conversar para avaliar se isso está de acordo com os princípios básicos do instituto, só para lembrar são 4: soberania nacional, desenvolvimento sustentável nacional, a integração regional e a cidadania.
Transcrição Integral
TÓPICOS DA ENTREVISTA
- Um pouco de história
- Think Tanks no Brasil: uma força ainda insipiente
- A importância de desenvolver Think Tanks no Brasil
- Os grandes desafios de um Think Tank
- Dificuldades de captar recursos a longo prazo
- Como chegar às Políticas Públicas
- A força de uma causa de importe à sociedade
- Pessoas “3 passos à frente”
1. UM POUCO DE HISTÓRIA
Obrigado pelo convite de poder falar com o Thinkers-Brasil. A minha história com o Isape vai para trás já algum bocado, eu não sou um dos fundadores do Isape.
Ele foi fundado em 2010, aqui na cidade de Porto Alegre.
Eu me juntei ao instituo em 2020, como vice-presidente, e desde o início desde ano de 2022, sou o presidente.
Tive a minha graduação na Universidade Federal de Santa Maria, no curso de relações internacionais e lá a gente tinha uma pesquisa, uma série de trabalhos de extensão e pesquisa, que vinculava o que estava surgindo como polo de defesa de Santa Maria, justamente essa parte de cooperação de universidade, forças armadas e empresas.
Quando eu falo universidade, era principalmente a parte das engenharias, então faltava-nos as ciências sociais, as relações internacionais, alguma parte de como contribuir com o que a gente chama de tríplice hélice.
A gente começou a fazer bastante pesquisa, fazer bastante contato, contato direto, participar, ir nas empresas, na universidade, em outros departamentos da universidade e ir nas Forças Armadas para entender o que estava acontecendo, quais eram as lacunas dessa cooperação e como o polo de defesa podia se estabelecer.
No ano de 2016 para 2017, eu ingresso no mestrado em estudos estratégicos internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tenho contato com uma disciplina de Think Tanks dos Estados Unidos.
Como os Think Tanks dos Estados Unidos percebem o Brasil no pós-guerra fria, especialmente.
Essa disciplina foi dada por um dos maiores especialistas de Think Tanks de segurança e políticas internacionais do Brasil, o professor Eduardo Swartman.
Tivemos muita conversa sobre o que é o Think Tank, sobre o que ele tem que ser, o que não tem que ser, qual a função, quais são as estruturas, quais são as diferenças de composição, diferentes Think Tanks no Brasil, na França, na Alemanha, nos Estados Unidos, na Austrália.
Então tudo isso foi permitindo a gente entender a partir dessas ideias, desse conhecimento, junto com o ex-presidente do instituto Guilherme Thudium que foi meu colega na disciplina, a gente começou a ter uma bagagem e uma energia, uma vontade muito grande de participar desse debate ativo com a sociedade civil dos policy makers.
Foi então que a gente assumiu o desafio na frente do Isape, a partir de 2020, mas ressaltando, o Isape existe como uma instituição sem fins lucrativos, apartidária, independente, desde 2010, aqui em Porto Alegre.
A gente tem uma sede no bairro Moinhos de Vento, na rua 24 de outubro, que nos deixa muito felizes chegar aos 12 anos de Isape, de uma forma bastante saudável financeiramente, em termos de capital humano, em termos de ter a nossa sede para chamar de nossa, para receber os nossos convidados. Tudo isso deixa a gente muito feliz.
2. THINK TANKS NO BRASIL: UMA FORÇA AINDA INCIPIENTE.
Eu acho que um dos principais motivos é a diferença de estrutura que a gente tem no Brasil.
Nos Estados Unidos e na França. Alguns autores apontam, como no caso francês onde vários Think Tanks são os grandes pensadores, acabam por vezes, tendo uma atuação no debate público. Essa é uma das diferenças.
No Brasil a gente não tem Think Tanks estruturados no modelo americano, nem em termos de volume de pessoas, de capital, muito menos de inserção.
Mas a gente tem, por exemplo, se pegar todo o debate de política econômica do Brasil, nos últimos talvez 50 anos, como muito pautado pela UFRJ, pela FGV, pela Unicamp. São diferentes escolas que estão influenciando, mas sem necessariamente operar como Think Tank.
Por vezes, no Brasil, isso se confunde, a gente fez um papel muito grande no Isape, porque a maior parte dos pesquisadores do Isape, desde o início, até hoje, são egressos de graduação, de mestrado, doutorado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e por vezes algumas pessoas pensam que o Isape tem alguma vinculação com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que não é verdade.
A gente tem um CNPJ próprio, a gente tem a nossa sede, como mencionei, mas nada impede da gente funcionar como esse hub que aglutina pessoas egressas, que têm uma visão muito comum sobre o que as relações internacionais do Brasil devem ser, de como as pautas de desenvolvimento de segurança do Brasil devem ser.
Então um dos principais motivos, na minha opinião, sobre o porquê que no Brasil, a gente opera diferente dos Estados Unidos e por mais que a gente tenha tido um boom, uma eclosão de Think Tanks no Brasil, a partir dos anos 90, eu diria que é justamente pelo fato de que esse papel é muito ocupado pelas universidades, principalmente nos assuntos de desenvolvimento, de relações internacionais, que são os temas de políticas públicas, que são pertinentes ao instituto americano de política estratégica.
3. A IMPORTÂNCIA DE DESENVOLVER THINK TANKS BRASILEIROS
Eu acho que é simplesmente central a importância de desenvolver Think Tanks no Brasil, principalmente através de Think Tanks sérios, a gente tem nos Estados Unidos uma replicação, uma multiplicação de Think Tanks.
Nos últimos 20 anos os Think Tanks têm sua credibilidade posta em dúvida, simplesmente porque viraram muito mais marqueteiros do que seguir sua função original de Think Tank que é justamente, fazer pesquisa voltada para ação.
Justamente o potencial da academia, são os principais insights da academia, uma metodologia robusta, com base teórica e com todo um aparato que sustente as nossas prescrições ou as nossas críticas ou a nossa forma de tentar moldar o debate público.
Então é fundamental porque isso passa no final das contas, o Think Tank opera mais como um agente de racionalização do estado, vai permitir que a sociedade esteja mais informada, e vai permitir que os policy makers também tenham decisões, ou que pelo menos eles tenham mais informações, não quer dizer eles vão tomar as melhores decisões, mas vão ter mais informações na hora da tomada de decisão.
Sem esquecer que, sempre os Think Tanks, e essa é a nossa parte crítica ou pelo menos consciente, eles normalmente têm uma pauta, uma agenda, mas a questão é como colocar essa pauta para frente, com base em dados, em questões que são sérias, ou seja, não é simplesmente um “achômetro” ou, como falei antes, fazer uma simples jogada de marketing para um determinado fim.
A ideia é que o Brasil precise - e tem bastante Think Tanks surgindo nos últimos vinte anos, seguramente - de Think Tanks sérios.
A diferença do Brasil também tem muito Think Tank no Brasil ou coisas que funcionam de forma muito parecida, operando no guarda-chuva de algum Ministério.
A gente tem, por exemplo, o Ipea que é inegável, a gente tem um instituto que não se identificava como Think Tank.
A Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, sem sombra de dúvidas, opera como um Think Tank, apesar de não reivindicar para si o termo, sem dúvida, a gente tem muita instituição que faz um papel parecido com o nosso.
4. OS GRANDES DESAFIOS DE UM THINK TANK
Os grandes desafios de um Think Tank de política externa, de relações internacionais, de segurança, de desenvolvimento, no Brasil, neste momento, são por vezes, do fato de que esses assuntos são jogados ou são escanteados pelo debate público.
Quando a gente fala de eleições, por exemplo, a gente teve eleição esse ano, o tema desenvolvimento obviamente é abordado, mas, com uma certa opacidade.
Ele vai meio en passant nesse sentido, ter uma política externa, ele se resume muitas vezes, a disputa A contra B, sem ter uma noção mais clara do papel, do quanto as relações internacionais importam para o desenvolvimento do país.
Então esse é um desafio que eu vejo, em termos de Think Tanks de segurança, de desenvolvimento, de política externa, simplesmente a falta de atenção do debate público para esse ponto.
Mas é justamente por isso que a gente está aqui, a gente não pode sentar, se acomodar e apenas reclamar, por isso que a gente tem os nossos pesquisadores que estão semanalmente na TV, na TV aberta, na TV fechada, nos jornais, comentando assuntos.
A gente não pode moldar diretamente o debate com os políticos, isso não é um papel de um Think Tank, num primeiro momento, mas a gente tem que conscientizar a população civil, que esses debates são importantes, isso no momento tem que conscientizar os policy makers, de que esses assuntos não podem ser isolados e caminharem com as próprias pernas.
Eles são muito importantes, é um assunto muito importante, para deixar na mão, apenas do Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, então esse é um desafio que eu observo.
Quanto à pergunta sobre um desafio que o Isape enfrenta, ... o principal desafio, de um Think Tank como o Isape, a gente está localizado em Porto Alegre, a gente sabe das nossas distâncias, de limitações, de estar longe do Rio, longe de São Paulo, longe de Brasília, então eu acho que essa é a principal dificuldade, num momento inicial de um Think Tank, como i Isape.
A gente teve e eu jamais falaria isso em termos positivos, mas um dos legados positivos da pandemia, foi essa possibilidade de estarmos falando você em São Paulo, eu em Porto Alegre.
A gente cede entrevista para a GloboNews, para a CNN, pra onde for preciso, tudo via online, então isso permitiu inserção dos nossos pesquisadores, nos últimos tempos, que a gente teve que ter um planejamento, de como lidar com essa demanda, com essa nova inserção do Isape na mídia, numa mídia tradicional, que antes a gente não tinha tanto acesso.
A parte positiva disso tudo, o Rio Grande do Sul é um estado longe de São Paulo, longe de Brasília, mas ainda assim, a gente é um estado importante, a região sul é uma região importante, a gente aqui em Porto Alegre está muito próximo de Buenos Aires, Montevidéu e a gente tem contatos, parcerias muito legais com Think Tanks de lá, que são bastante interessantes para gente.
A Cescos do Uruguai e Redappe da Argentina, que trabalham, também, com assuntos de relações internacionais e desenvolvimento.
A Redappe um pouco mais desenvolvimentista, acesso um pouco mais liberal, então o Isape está daqui para conversar com quem for possível, especialmente sendo que um dos nossos lemas é integração, integração sul-americana.
Outro ponto de benefício, apesar da pergunta ser sobre desafios, eu falo de desafios/oportunidades, então a gente tem bons contatos com a assembleia legislativa do Rio Grande do Sul.
Temos portas abertas sempre nas duas maiores universidades do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre.
A gente tem acesso muito bom, ao Comando Militar do Sul, que é o maior, principal Comando Militar do Brasil, é sediado aqui, o comando em Porto Alegre.
Temos presença de diversos consulados, um dos principais, que a gente fala, tem as parcerias, é o consulado dos Estados Unidos.
Nossa sede do Isape é simplesmente localizada porta a porta, eu sempre brinco com eles, que a gente é vizinho de porta, com o consulado do Uruguai, assim como a gente é vizinho deles, aqui de Porto Alegre e Montevidéu.
Os desafios são inúmeros, principalmente em termos de captação de recurso, a estrutura fiscal, para o terceiro setor no Brasil, para a captação de recursos, é bastante incipiente, pouca gente tem conhecimento apropriado, inclusive escritórios de advocacia que trabalham com isso.
São poucos então a gente acaba ficando limitado por vezes, na questão operacional e a outra questão de como atingir esses centros, como falei antes, a gente tem um bom contato com o empresariado,
Temos bom contato com os políticos, a questão sempre é a dificuldade de operacionalizar isso de uma maneira correta, de uma maneira que fique dentro do caminho legal para a capitação de recursos.
5. A DIFICULDADE DE CAPTAR RECURSOS S LONGO PRAZO
Para projetos mais específicos ainda existe a complicação, por vezes, de como lidar com isso, através do fluxo, por onde passa esse recurso, quais são as formas, porque esse dinheiro não pode simplesmente cair na conta do instituto, então tem que ver como isso vai ser gerenciado etc.
O Isape tem como um dos seus pilares iniciais, ... que as principais verbas para manutenção, para as contas básicas do instituto, elas vêm de uma contribuição semestral dos seus associados.
Temos 3-4 níveis de associados, desde graduando, mestrando, outro de associado profissional, ... justamente para permitir duas coisas: por um lado nunca ter um momento de crise ou falta de receita, por falta de captação de recurso, então a gente capta o recurso através de pessoas que estão interessadas no instituto, que se ligam umbilicalmente às causas do Isape.
Esse é o primeiro ponto, mas esse dinheiro não sobra para executar grandes projetos ou projetos médios, é um dinheiro que simplesmente serve para manutenção básica do instituto e por outro lado isso permite que a gente seja um Think Tank independente.
Um dos pontos que a gente pode se orgulhar e dizer que independentemente de quem contribui com o instituto, a gente ainda vai ter a nossa posição independente, a gente não flexibiliza os nossos valores, que estão no nosso estatuto, em termos de uma contribuição gigantesca ou enorme.
Sempre que chega algum caso parecido com esse, a gente tem que conversar para avaliar se isso está de acordo com os princípios básicos do instituto, só para lembrar são 4: soberania nacional, desenvolvimento sustentável nacional, a integração regional e a cidadania.
6. COMO CHEGAR ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS?
Acho essa pergunta fundamental.
Acho que são pelo menos os pontos que eu gostaria de ressaltar, que aparecem, na minha cabeça, de forma mais imediata.
Primeiro é um dos livros que tem sobre Think Tanks, não vou lembrar agora exatamente quem era o autor, mas o ponto era de simplesmente a gente ter de fazer, com a esperança de que atinja.
Porque não existe um jeito de mensurar a influência na política pública, não existe número de aparições na TV, nunca pode garantir que tal projeto ou tal coisa foi à frente por causa de uma ação do teu ou de outro Think Tank.
Simplesmente tem que fazer e esperar que essas coisas aconteçam, não só fazer, obviamente tem que conversar com as pessoas certas, por essa informação nos ouvidos, nas mãos certas, mas realmente não tem como mensurar se a gente está impactando ou não.
Porque a gente influencia por 2 lados e eu não sei se existe um lado mais importante, se alguém me dissesse que só posso impactar um lado, e tivesse que escolher entre a sociedade civil ou políticas públicas, os policy makers, eu não sei.
Porque as vezes, se de um lado a gente simplesmente é capaz de tornar a sociedade civil mais consciente de um determinado assunto, a gente por outro lado, vai tornar os políticos mais sensíveis àqueles temas.
Eles vão ter que prestar mais atenção àqueles temas, porque isso interessa diretamente ao seu eleitorado, então isso é um dos primeiros pontos que eu queria mencionar.
O segundo ponto, sobre como influenciar as políticas públicas, é um dos pontos centrais que a gente tem prestado atenção.
Na literatura de Think Tank, isso é central, e a gente percebe isso, às vezes indo mais à frente, com o que a gente chama de dia da porta giratória.
Então são pessoas que saem do Think Tank, passam por algum órgão do governo, depois saem do governo, vão para alguma empresa, saem dessa empresa e voltam para o Think Tank, ou depois vão para universidade.
O Isape, neste momento, tem 12 anos, surge como um instituto de pessoas muito jovens que lançaram ele em 2010 e depois de 12 anos a gente tem feito algumas avaliações de uma mudança de composição social do instituto.
Agora são pessoas mais velhas, empregadas, pessoas que já tiveram 1, 2, 3, 4 experiências, algumas do governo, outras empresas, então isso vem abrindo muitas portas para a gente.
Esse processo de porta giratória, ainda não atingiu o Isape, a gente não consegue se beneficiar dele, mas é interessante a gente perceber isso nos outros Think Tanks.
Se pegar os outros Think Tanks no Brasil, e eu não vou mencionar nomes, porque alguns fazem isso de forma correta e outros fazem isso de questão bastante temerária, por exemplo em questão de licitação, questões de produtos de defesa, que é um assunto muito delicado, pouca gente tem conhecimento.
Tem muito Think Tank ou consultoria que estourou nos últimos 4 anos, que usou da porta giratória como uma forma de ter ganhos bastante elevados, não necessariamente comprometidos com o melhor para a defesa do país.
O que eu tenho para dizer, é difícil influenciar a política pública, mas pode influenciar não só na nossa área, para qualquer área, na arquitetura urbana, área de saúde, todos esses pontos são sensíveis,
Todos os Think Tanks estão, mais ou menos, remando contra a corrente nesse sentido, porque a abertura dos políticos também é limitada.
A gente faz o melhor, a gente faz a comunicação com eles, fala com os assessores, tenta brifar eles, alguns pontos, mas no final do dia, a decisão deles é deles, então cabe a gente tentar falar, explicar e ter paciência nesse processo todo.
7. A FORÇA DE UMA CAUSA QUE IMPORTE
A principal sugestão é que tem que ser uma causa, você tem que ter uma causa que você se importe, você tem que ter uma causa que seja de interesse da população e que um outro grupo de pessoas se importe, porque se não, o Think Tank dura muito pouco.
A gente costuma brincar, não só brincar, mas a gente usa como um lema dentro do Isape, que as pessoas passam e as instituições ficam.
Então a gente tem uma segurança no Isape de que, eu estou aqui até 2024, eu saio e o Isape continua.
Assim como as pessoas que tiveram antes de mim têm essa certeza, e a gente tem um contato, com essas pessoas e a gente gosta de perguntar é se o instituto continua no seu caminho inicial, continua seguindo os mesmos objetivos, tem alguma coisa que a gente está saindo do trilho.
Então a primeira parte da resposta é um lema, uma causa que seja sensível a você, à população e a segunda é uma equipe que esteja de acordo, alinhada, que ponha a mão na massa junto, acho que sem isso é bastante difícil.
O segundo momento é saber as limitações do Think Tank que a gente enfrenta.
Todo Think Tank tem sua limitação, seja ela geográfica, de capital humano, de inserção.
Então para um Think Tank amadurecer, normalmente demora um pouco, especialmente para pessoas que estão querendo lançar, que estão começando.
Um Think Tank demora muito tempo para amadurecer, a não ser que sejam Think Tanks que vêm de pessoas que já têm experiência muito grande com isso, que já participaram de outros e já dão três passos na frente, já de largada, então isso é uma coisa possível, plausível, que a gente tem que reconhecer.
O último ponto, seria simplesmente dizer que a gente tem que ter ciência de que a gente está tratando de coisa séria.
Como eu mencionei antes, a multiplicação de um número, principalmente nos Estados Unidos, no Brasil tem uma onda recente, de Think Tanks não tanto comprometidos com a pesquisa, com o conhecimento robusto, mas sim, do que a gente chama de Think Tanks de advocacy.
Eles são muito mais de advocacy do que de pesquisa voltada para ação.
Saber que a gente está lidando com política pública do país, política pública sensível, essa política pública afeta a nossa população de 215.000.000 de brasileiros
Então tem que sempre ter consciência de que a gente está lidando com vidas humanas no final do dia e se a gente não tiver buscando a melhoria da nossa população, se o Think Tank for voltado especialmente para o Brasil, se a gente não tiver buscando a melhoria do país, então ele faz pouco sentido, a razão de existir dele é limitada.
8. PESSOAS “TRÊS PASSOS À FRENTE”
As pessoas que trabalham são muito competentes e, como exemplo, de um Think Tank, se você olha de um ano para o outro, ele surgiu e já estourou, por tudo.
Vou dar todo o reconhecimento à plataforma Cipó, eles têm feito um trabalho bem legal, do Rio de Janeiro, se não me engano.
Ele surge de pessoas que já tinham conhecimento de Think Tanks. Não são pessoas externas ao meio, que vêm e têm que amadurecer, têm que aprender.
Essas pessoas já sabiam o que estavam fazendo, então eu só quero aqui, parabenizar também, porque a ascensão deles em 1 ano, 2 agora, foi bastante abrupta e bastante positiva, contribuindo também com questões sensíveis ao país.