ENTREVISTAS THINKERS EM AÇÃO

Laís Peretto

Diretora Executiva da Childhood Brasil

Laís Peretto atuou na área de Educação por nove anos antes de migrar para o mercado financeiro.

É formada em Administração de Empresas e Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, fez curso de extensão em Negócios Internacionais na Universidade da Califórnia (Irvine), e MBA pelo Ibmec, atual Insper.

A diretora executiva chega com a missão de consolidar o plano estratégico da Childhood Brasil, por meio de ações que levem a entidade a autossuficiência, fortalecendo as áreas de parcerias nacionais e internacionais e desenvolvendo atividades de alto impacto social no enfrentamento do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.

Childhood Brasil - Pela Proteção da Infância

A Childhood Brasil tem como objetivo a proteção à infância e adolescência. Seu foco de atuação é no enfrentamento do abuso e da exploração sexual contra crianças e adolescentes.

Trabalham por meio de programas e projetos para que a proteção da infância e da adolescência seja pauta de políticas públicas e privadas.

Para fazer isso, formam parcerias com empresas, sociedade civil e governos, e oferecem informação, soluções e estratégias para a questão da violência sexual contra crianças e adolescentes.

ENTREVISTA

Laís Peretto

Graduada em Administração de Empresas e Pedagogia, tem formação em Negócios Internacionais na Universidade da California e MBA no Insper

27 de junho de 2022

Oriana White

MODERADORA

Juliana Lotti

TRANSCRIÇÃO

 

A AGENDA 227 PAUTANDO OS PRESIDENCIÁVEIS E ESCREVENDO LEIS

A gente faz parte de um movimento que chama agenda 227. Não sei se você ouviu falar, é uma organização, que conta com cerca de 50 organizações da sociedade civil, que tem como intuito elaborar uma agenda de proposta para que os presidenciáveis coloquem a criança e o adolescente como prioridade, conforme reza o estatuto da criança e do adolescente. Isso não foi feito até agora, mas a gente, pela primeira vez, tem um movimento coeso e com gente muito importante, forçando essa pauta.

É Claro que a gente entra na parte das violências, né? E a agenda da crise adolescente é muito maior do que isso, mas além do patrocínio, a gente está com uma atuação técnica grande para ajudar a construir uma proposta.

A gente vê 3 linhas muito claras: uma linha de prevenção de exploração sexual, que normalmente são as parcerias com a iniciativa privada. A gente tem a linha de prevenção de abuso, que é muito mais de comunicação de projetos, a gente tem projetos com a fundação Roberto Marinho, canal futura, para ajudar as crianças a entenderem a situação de perigo e se protegerem, tanto de violência sexual como de violência física e também violência no ambiente virtual. E a terceira linha muito forte é a linha de advocacy.

Em 2017, ajudou a escrever uma lei e ajudou a aprovar, forçou mesmo - Lei 13.431 de 2017.E essa é uma das coisas que mais me orgulha na organização que é ter feito alguma coisa que de fato, causou uma mudança estrutural.

Eu acho que além desses desafios todos que eu disse, a gente tem desafio de fazer essa lei ser implementada na integralidade.A realidade dos municípios é muito distinta.

Claro que a gente já evoluiu, mas ainda tem muito a ser feito e esse ano é um ano que a gente está investindo muito nisso também.

Transcrição Integral


ÍNDICE


  1. Usando a experiência da iniciativa privada para a área social
  2. A felicidade como resultado de fazer o bem
  3. O desafio é a própria causa de lidar com a violência sexual com crianças e adolescentes
  4. Os recursos financeiros derivados de projetos X os recursos para manter a instituição
  5. A pandemia mudando a rotina e restringindo os recursos
  6. Agenda 227 pautando os presidenciáveis e escrevendo leis
  7. Um futuro otimista com mais organizações atuando na mesma causa

1. USANDO A EXPERIÊNCIA DA INICIATIVA PRIVADA PARA A ÁREA SOCIAL

Eu me chamo Laís Cardoso Peretto, sou diretora executiva da Childhood Brasil desde outubro de 2020. Foi um baita desafio, por causa da pandemia, porque a gente estava totalmente home office, totalmente isolado e para mim era um desafio muito novo, porque eu sou oriunda da iniciativa privada, então já estava mudandode setor e não conhecia muito da causa. Tinha que me aprofundar e tampouco conhecia equipe, então foi um grande desafio.

Nessa causa, o que aflige um pouco a gente é que o problema é tão grande e tem tão pouca gente disposta a falar e a lutar contra isso, que às vezes a gente tem a impressão que não vai conseguir resolver isso nem no médio período de tempo. Claro que a gente consegue melhorar, óbvio, a gente também tem um otimismo quando a gente vê um número de pessoas falando sobre isso. Como a sociedade vem aceitando um pouco mais, mas ainda precisa de muita intensidade.

Foi uma trajetória construída ao longo dos últimos 10 anos. Eu venho do mercado financeiro. Na verdade, a minha carreira foi bastante eclética. Eu sou formada em pedagogia e em administração de empresas, e durante os 9 primeiros anos da minha carreira, comecei a trabalhar muito cedo, eu trabalhei com educação:primeiro,educação infantil e depois educação fundamental. Depois eu fui para o mercado financeiro, não tem nada a ver com isso, mas, enfim, eu estava terminando administração de empresas, entrei como trainee num bancolocal que nem existe mais e fiquei, aí em seguida trabalhei só em grandes bancos: Bradesco, Itaú, Santander. Eu trabalhei muitos anos em mesas de operações, depois eu fui para o private Bank, e foi lá que eu comecei a ter contato com a parte de filantropia.

Muitas famílias que são atendidas pelo segmento do private e tem associações, fundações e querem, têm um desejo de ter uma atuação filantrópica. Então existia no HSBC, que foi onde eu fiquei mais tempo, uma filantropia advisor lá em Londres e eu comecei a transacionar, conversar com ele, pedir assessoria para alguns clientes e fui me apaixonando. Acabei transitando muito nos fóruns que existiam na época. Aí depois fui para o Santander, que estava muito fortalecido, e posicionado para atender os endowments também, então comecei a atuarajudando essa equipe que fazia endowment, me apaixonei, e comecei a me preparar para isso. Então fui fazer curso fora, e Kellogg tem uns cursos interessantes e aí chegou o momento que eu falei não dá para fazer as 2 coisas.

Já tinha uma atuação voluntária na escola das crianças. A gente estava já algum tempo trabalhando um Projeto de diversidade, inclusão racial, estava também com o grupo mulheres do Brasil, particularmente com empreendedorismo feminino numa das vertentes que tem o grupo. Eu senti um pouco essa atuação, mas de uma forma quase que intuitiva. Não era uma atuação profissional e quando eu decidi que ia ser profissional, obviamente eu saí do banco e muito rapidamente. O headhunter me procurou e a minha antecessora estava de mudança para fora do país e comecei no processo de seleção.

Então, a causa, a Childhood, faz especificamente enfrentamento de violência sexual contra crianças e adolescentes. É uma causa muito difícil, é um tema indigesto que as pessoas não querem falar sobre isso, eu sou absolutamente inserida nesse contexto, apaixonada pela causa, é uma causa do coração, mas ela entrou em mim, ela não veio naturalmente.

Eu diria quando você vê meus interesses de voluntariado, eles eram mais na linha de equidade de gênero, de cuidar de racial, que na verdade tem um recorte que transita muito com a própria violência sexual contra crianças e adolescentes, porque acaba sendo muito mais com o gênero feminino, acaba obviamente sendo muito mais incidente na população de pretos e pardos, então acaba que também tem uma transversalidade.

2. A FELICIDADE COMO RESULTADO DE FAZER O BEM

Eu sinto uma felicidade de estar atuando para mudar a realidade desse país. É muito satisfatório saber que a gente coloca o talento que a gente tem, a experiência que a gente tem, tempo e energia em alguma coisa que vai fazer bem, que está fazendo bem e que a gente já tem mudanças estruturais acontecendo pela atuação da Child, é muito satisfatório.Eu nunca imaginei isso. Trabalhava em banco, a gente trabalha para caramba, cobrado por meta, e não tinha não só essa impressão da profissionalização do terceiro setor, como a quantidade de tempo que a gente envolve. Então meu marido, quando eu fiz essa transição, ele achava que eu ia trabalhar menos, tranquila, mas ele briga comigo porque às vezes, 9 horas da noite, ainda estou trabalhando, mas é uma coisa satisfatória porque funciona e se eu não fizer, quem é que vai fazer? Eu preciso fazer, é satisfatório mesmo, então quase que se mistura uma coisa que a gente faz por profissão, uma coisa que a gente faz por acreditar de verdade, por acreditar que a gente está gerando uma mudança e por satisfação.

3. GRANDE DESAFIO: LIDAR COM A CAUSA DA VIOLÊNCIA SEXUAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Existem desafios cotidianamente, então, o maior deles mesmo é relacionado à causa em si, como que a gente estrutura e conhece profundamente o tamanho do problema? Porque acho que a gente tem uma outra situação decorrente dessa, que é a dificuldade de medir impacto. É muito particular essa causa, apenas 10% dos casos de violência sexual, de abuso sexual são denunciados. Isso é uma estimativa que a gente tem,com base nas pesquisas globais, pesquisas que a gente faz localmente também. Porque é um crime que gera vergonha, culpa na vítima. Então muitas famílias, muitas vítimas, não denunciam, não tem nem coragem. Algumas crianças nem sabem que estão passando por violência, são criadas dentro de um ambiente daquela matriz de violência e a gente não consegue mapear. Essa dificuldade de mapear o problema, de abuso é cerca de 10% e no caso de exploração sexual, que é um outro crime, que envolve quase como uma troca, envolve uma, digamos que é similar a uma transação comercial, mas a criança e o adolescente são absolutamente vítimas. São levados àquela situação por uma vulnerabilidade sócio econômica, enfim, que é 1 série de fatores, mas no caso da exploração sexual, apenas 7% dos casos são denunciados. Então, quando a gente tem uma sociedade que sabe que o problema existe, não quer falar sobre isso, não quer ver esse problema, como é que a gente vai mapear o que a gente gera? Então a gente está trabalhandoem mapear o impacto dos projetos. Hoje em dia a gente já vê algumas organizações que conseguem mapear mesmo e quantificar para cada real investido socialmente, quanto que existe de retorno. Hoje a gente já tem métricas evoluídas, então no nosso caso, na nossa causa é muito mais difícil porque a gente não consegue nem mapear de verdade o problema.A gente tem especialistas hoje no Insper, Ides, que já fazem esse tipo de avaliação.

4. OS RECURSOS FINANCEIROS DERIVADOS DE PROJETOS X OS RECURSOS PARA MANTER A INSTITUIÇÃO

O maior deles é realmente a questão financeira, eu diria. Hoje eu tive um almoço porque, na verdade, a gente vai fazer um evento em uma parte importante de um recurso que a gente levanta para manutenção institucional e fui imaginando que eu ia poder pedir para as pessoas participarem, me patrocinar, mas na verdade as pessoas estavam pedindo para mim, para gentepatrocinar a causa delas. Então, você vê que é uma dificuldade tangente à quase todas as organizações que não são e conectadas com empresas ou com famílias, porque elas já têm o recurso próprio. Nós somos uma associação independente. A Child, aqui no Brasil, foi constituída como uma associação sem fins lucrativos. Ela está conectada com a World Childhood Foundation. O instituto fundado pela rainha Silvia, da Suécia e que escritórios em 4 países do mundo.Quando a gente conta um pouco com a nossa história, as pessoas imaginam que a gente tenha o recurso que vem de fora, mas não tem. Cada escritório tem que ser mantido pela sua capacidade própria. E aqui na Child, como a gente já está no 23º ano de operação e a gente realmente foi pioneiro na causa em vários projetos, a gente é reconhecidoacho que o operador de projeto que faz enfrentamento, é mais antigo e com mais expertise e tem uma equipe muito técnica dentro de casa.E mesmo os consultores que trabalham para a gente, têm uma trajetória técnicamuito louvável e nós somos reconhecidos por isso. Então 70%,em ordem de grandeza, dos nossos recursossão oriundos de projetos que são patrocinados diretamente por empresas ou as vezes outras entidades, mas que tem um foco específico.A gente só entra em projetos em que a gente tenha uma diretriz nossa, em que a gente tenha Fund. Às vezes a gente não consegue Fund Internacional, a gente faz rodadas com fundações que a gente conhece e também nos ajudam, mas normalmente entra para projeto.

O que é difícil de estar aqui na nossa atuação, é o recurso institucional, que é o recurso que vem para manter a estrutura: essas 12 pessoas que são colaboradores nossos dentro da Child, coisas básicas,nosso escritório, tudo. Não adianta a gente achar que a gente vai conseguir fazer isso, um serviço técnico, de tão alta qualidade, com voluntário.

A gente precisa de profissional, de gente capacitada, tem mestre, tem doutor que está lá com a gente trabalhando. É isso que a gente precisa, e para isso, a gente precisa de dinheiro. Eu diria que a gente veio até aqui bem, mas o que trouxe a gente até aqui, não é o que vai levar a gente daqui para frente. Então a gente fez um planejamento estratégico muito robusto, que vai até 2030 e que tem todo um planejamento financeiro, de crescimento e de Independência e que conta também com uma Constituição de um fundo de reserva, para que a Child possa existir por mais tempo, porque a gente sabe que se a Laís vai passar aqui, esse problema, está diminuindo, deve diminuir, tem que diminuir, mas ele ainda vai existir.

5. PANDEMIA MUDANDO A ROTINA E RESTRINGINDO OS RECURSOS

Olha, então eu entrei em outubro e o lockdown, o isolamento começou em março e foi uma situação de restrição absoluta de custos, de receio, e a gente ao mesmo tempo sabia que as crianças estavam mais em perigo, porque elas estavam em um ambiente intrafamiliar, que é normalmente onde acontece a maior parte dos abusos e longe da escola. A escola é o canal por onde entra mais de 70% das denúncias. A gente teve em um primeiro momento, aquela redução drástica de denúncia, mas não significava que o problema estava acontecendo, só não estava sendo denunciado, né?Então foi aquela situação de adaptação total em todos os sentidos, mas eu diria que a gente, até pela condição que aconteceu como organização, a gente até que passou bem, a gente conseguiu manter todos os nossos projetos, fazendo inserção virtual, a gente não teve déficit em 2021 também não vamos ter em 2022.

6. AGENDA 227 PAUTANDO OS PRESIDENCIÁVEIS E ESCREVENDO LEIS

A gente faz parte de um movimento que chama Agenda 227. Não sei se você ouviu falar, é uma organização, que conta com cerca de 50 organizações da sociedade civil, que tem como intuito elaborar uma agenda de proposta para que os presidenciáveis coloquem a criança e o adolescente como prioridade, conforme reza o estatuto da criança e do adolescente. Isso não foi feito até agora, mas a gente, pela primeira vez, tem um movimento coeso e com gente muito importante, forçando essa pauta.

É claro que a gente entra na parte das violências, né? E a agenda da crise adolescente é muito maior do que isso, mas além do patrocínio, a gente está com uma atuação técnica grande para ajudar a construir uma proposta.

A gente vê 3 linhas muito claras: uma linha de prevenção de exploração sexual, que normalmente são as parcerias com a iniciativa privada. A gente tem a linha de prevenção de abuso, que é muito mais de comunicação de projetos, a gente tem projetos com a fundação Roberto Marinho, canal futura, para ajudar as crianças a entenderem a situação de perigo e se protegerem, tanto de violência sexual como de violência física e também violência no ambiente virtual. E a terceira linha muito forte é a linha de advocacy.

A gente, em 2017, ajudou a escrever uma lei e ajudou a provar, forçou mesmo - Lei 13.431 de 2017. E essa é uma das coisas que mais me orgulha na organização que é ter feito alguma coisa que de fato, causou uma mudança estrutural. Eu acho que além desses desafios todos que eu disse, a gente tem desafio de fazer essa lei ser implementada na integralidade. A realidade dos municípios é muito distinta. Claro que a gente já evoluiu, mas ainda tem muito a ser feito e esse ano é um ano que a gente está investindo muito nisso também. A dificuldade é muito grande, porque os atores estão em escalas e órgãos diferentes, então a gente tem, por exemplo, a prefeitura, o município, sem dúvida tem um papel importante, mas a gente tem o âmbito da justiça. Só para entendero conceito: a criança, antes da Lei, quando ela resolvia contarou quando alguém identificavauma violência e fazia uma denúncia, na média, essa criança contava a mesma história 8 vezes. Imagina falar sobre de violência sexual, que já é uma coisa extremamente delicada, não tem conforto de falar sobre violência sexual. Ainda quer que a criança vá lá e conte todas essas vezes a mesma história.

Muitas vezes elas sofrem violência institucional, ela é culpada porque estava com shorts curto ou sei lá eu o quê. O processo costumava levar 5 anos para acabar e no meio desse processo, na hora de fazer o depoimento, a criança era colocada ao lado do réu.O nível de responsabilização de culpados da ordem de 4%, 6%. e muita desistência no meio do caminho, porque a criança já era uma adolescente, estava numa outra fase, e queria superar aquilo. E a gente ali naquele processo.

Então, a lei vem justamente para acabar com essa revitimização, com essa necessidade de que a criança conte a história várias vezes, para que todos os serviços estejam integrados. Quais são os serviços? A rede de educação, saúde, assistência social, conselho tutelar, a polícia e a justiça. São âmbitos diferentes, a gente não tem só a prefeitura. Temos muito orgulho da Child. Mas, ainda tem muito o que fazer. Aqui no Brasil a gente ainda não tem um trabalho efetivo com o perpetrador (abusador), que lá na Suéciaeles já estão nesse ponto.

A gente investe muito nos projetos de prevenção relacionados à educação para auto proteção. A criança, o adolescente saberem o que é um abuso, quando falar não, a gente sabe que isso tem um poder importante, mas a gente não está falando com outro lado ali que é o perpetrador, que esse cara, essa pessoa, não podemos nem dizer que o cara, porque mulheres também são, mas claro que existe um número muito maior de homens, mas precisa ser feito um trabalho muito forte para abrir os olhos dessas pessoas.

A gente usa muito esse termo leigo, não a gente como Child, mas sim a sociedade que se refere ao perpetrador como pedófilo. Pedofilia é uma doença e a maior parte dos abusos são cometidos por pessoas que não são portadoras dessa doença. Elas têm uma vida sexual saudável, no sentido de que também têm uma vida sexual adulta normal e se aproveitam de crianças e adolescentes quando têm a oportunidade. Mais de 70% dos casos acontecem no ambiente intrafamiliar, ou por alguém da família ou muito próximo, vizinhos, amigos muito próximos.

7. UM FUTURO OTIMISTA COM MAIS ORGANIZAÇÕES ATUANDO NA MESMA CAUSA

Eu sou animada, eu sou otimista para a definição, e como a gente tem outras organizações agora que também estão falando sobre a causa, a gente tem o Instituto Liberta, que é um grande ator na parte de comunicação com o público em geral, porque fica muito mais com projetos na parte técnica, então é bom ter também outras organizações que estão atuando. A gente tem a Unicef sempre presente, enfim, tem vários parceiros aí que estão também ajudando a difundir toda a questão de prevenção às violências. E eu sempre penso nisso, a causa é difícil, às vezes dá um desânimo, a gente já vê as notícias que chegam até nós, os casos da aquela tristeza, mas aí eu paro e penso se eu fosse uma dessas crianças, qual é o momento em que eu mais tenho esperança de mudança? Agora!

Existia, mas a gente nem sabia que esse problema existia. A gente nem falava sobre, então eu acho que o caminho está certo, a velocidade está errada, a gente tem que ser mais rápido, a gente falou tem que se estruturar, tem que ir para cima com mais força, mas a gente está fazendo.

Em 2019 a World Childhood Foundation patrocinou uma pesquisa junto com a OAK Foundation que chama Out of the Shadows (fora das sombras) e essa pesquisa mapeou como é que 60 países enfrentavam o problema da violência sexual dentro de 4 pilares: no pilar de conjunto de leis, no pilar da organização da sociedade civil, no pilar de governo e iniciativa privada. Como é que a gente estava se estruturando para enfrentar, e o Brasil não ficou mal, a gente pegou a 13ª posição sendo que os fatores que a gente se destaca são o conjunto de leis. O fator que a gente não se destaca, o pior: o Governo, a não implementação dessas leis. O outro pilar que a gente se sai muito bem, é da organização da sociedade civil, da iniciativa privada e do envolvimento das empresas. Esse ano a gente está fazendo de novo e esse ano não é patrocinada pela Childhood. Quem está patrocinando é uma organização lá de fora e está para ser divulgado agora no final de julho, começo de agosto, para saber como é que a gente ficou no ranking.

Eles fazem uma pesquisa mesmo com todos os órgãos envolvidos, então eles entram em contato com ministérios, prefeituras, com as organizações, fazem uma pesquisa aprofundada e como falei pra você nossa dificuldade de dados, ela é oriunda inerente da causa, mas a gente ainda tem aqui no Brasil uma dificuldade ainda maior, porque os dados vêm de fontes diferentes, então a gente tem os dados da segurança pública, recentemente o anuário de segurança pública, referente ao ano passado, que foi horrível em termos de número, vieram piores. A gente tem os dados que vêm do Disque 100, que é a ouvidoria, a gente tem os dados da Safernet que é a organização que colhe os dados que acontecem no ambiente de violência online, e a gente ainda tem os dados da saúde, então às vezes está nas 2 bases, em uma só e a gente não tem nem como identificar então esse é um outro desafio gigantesco da causa, unificar, porque a gente só consegue enfrentar o problema, quando a gente conhece de verdade o problema. A gente sabe que não é só a gente que passa por isso, a gente tem muita conexão com outras organizações, em outros países e eu acho que esse ranking de 2019 do Out of theShadows foi bem fiel quando mostrou onde a gente estava bem e onde estava mal, vamos ver o que vem agora em 2022 e eu vou fazer questão de mostrar para vocês.