Thinkers em Ação

Lucas Soussumi

Gerente De Projetos Da Bravi

Formado em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie.

Atua na criação e coordenação dos eventos e ações nacionais da associação.

É responsável pela interlocução com os players do mercado, relacionamento com as representações estaduais, entre outras atividades.


BRAVI - Brasil Audiovisual Independente

Entidade sem fins lucrativos fundada em 1999, com o intuito de reunir e fortalecer as empresas, voltadas à produção de conteúdo para televisão e mídias digitais no mercado nacional e internacional.

Fundada como Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV), passou a se chamar Brasil Audiovisual Independente (BRAVI), a partir do dia 15 de agosto de 2016.

A mudança de nome da associação deve-se ao entendimento de que o escopo de atividades da produção audiovisual independente no Brasil e no mundo hoje atua em múltiplas telas e plataformas, tendo como possibilidades a produção para mobile, web e vídeo on demand, além dos canais de televisão aberta ou por assinatura e para cinema.


ENTREVISTA

Lucas Soussumi

Gerente De Projetos Da Bravi

junho de 2022

Oriana White

MODERADORA

Juliana Lotti

TRANSCRIÇÃO

 

O DESAFIO DE ACOMPANHAR UM SETOR EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO


Eu entrei na parte de publicidade quando eu comecei a trabalhar, então era estagiário.

Depois fui fazer atendimento com as empresas de publicidade e chegou uma hora que eu falei, não quero mais trabalhar com publicidade, porque é um segmento que está produzindo muita coisa, num ritmo muito intenso.

Mas você não vê tanto valor naquilo, um valor simbólico, e resolvi optar por procurar outros caminhos.

Veio a ideia de entrar com uma associação, uma vez conversando com um grande amigo meu e ele me falou: “Por que você não vai ver uma associação, tem um pouco a sua cara, você gosta dessa questão das políticas, das normativas, da regulação do setor?”

E foi aí que eu entrei, na época a Bravi se chamava ABITV - Associação Brasileira Independente de Televisão, isso lá em 2012 e estavam precisando de alguém para cuidar da parte mais focada no Brasil.

Isso porque tinha acabado de ser aprovada a lei 12485, que é a lei do serviço de acesso condicionado, que é a lei da TV paga e a produção ia deixar de ser centralizada só no Rio e em São Paulo por ter mais políticas públicas nas outras regiões.

Então acho que esse foi o primeiro desafio; como é que a gente consegue pegar produtoras que estão pelo Brasil e criar uma consciência nessas empresas que elas também podem ver o conteúdo delas na TV paga, na TV aberta, produzir sua própria propriedade intelectual?

Então acho que esse foi o desafio de amarrar as regiões do Brasil.

Você tem um produto, um audiovisual brasileiro, de fato, não só audiovisual Rio de Janeiro e São Paulo.

E no decorrer da história tiveram outros desafios, continuar a capacitar essas empresas.

Então a gente viu, desde 2012 até hoje, o surgimento das plataformas de streaming, o Netflix, Amazon Prime.

Isso mudou completamente o segmento!

Antes a produtora produzia para o cinema, para a sala de exibição.

Depois ela passou a ter a chance de produzir na TV paga.

Aí depois surgiram as plataformas.

Então, todo dia é um desafio novo para você tentar entender esse mercado, como ele funciona, quais são as oportunidades de negócios das empresas e que tipo de apoio dessas empresas vão precisar.

Pode ser um apoio da capacitação dos profissionais executivos, a elaboração de novas políticas públicas ou o aperfeiçoamento das existentes, como se faz para atrair mais investimentos privados, como a gente coloca os produtores num lugar de destaque nessa indústria que é global...

Transcrição Integral


TÓPICOS DA ENTREVISTA


  1. Audiovisual: uma área em desenvolvimento
  2. A importância da política pública na área da cultura
  3. O desafio de acompanhar um setor em constante transformação
  4. Os fundos mantendo o setor - os investimentos privados construindo carreiras
  5. A pandemia paralisando o audiovisual e incentivando a animação
  6. Futuro promissor: exportando conteúdo
  7. A falta de um olhar estratégico

1. AUDIOVISUAL: UMA ÁREA EM DESENVOLVIMENTO

Meu nome é Lucas Soussumi, sou gerente de projetos da Bravi, que é uma associação que representa as produtoras independentes de conteúdo, tanto para televisão quanto de novas mídias.

Eu sou o gerente executivo do Brazilian content que é um programa que trabalha com exportação de conteúdo brasileiro para o mercado Internaciona.

Então a gente trabalha com as políticas que fazem com que os conteúdos que são produzidos por produtoras brasileiras independentes aqui no Brasil, possam figurar no mercado internacional fazendo essa ponte com empresas no mercado Internacional, com os eventos, as organizações e assim por diante.

Faz muito tempo que eu trabalho nessa área, eu posso dizer que é uma das únicas áreas que eu trabalhei desde a época de estágio.

Eu fui estagiário de produção, dentro de produtora independente e fui cada vez mais entrando nessa área.

Eu acho que hoje são poucas pessoas, no Brasil, que trabalham dentro de uma associação de produção do audiovisual.

São poucas associações e o corpo de trabalho é muito pequeno.

Eu me sinto muito feliz de trabalhar, é algo que eu gosto, é algo que eu sou apaixonado de estar bem por trás das câmeras.

Mas tendo um papel que considero fundamental, que é justamente você permitir que o audiovisual detenha o seu espaço, principalmente, a defesa do espaço do audiovisual.

É um mercado que é tão competitivo que demanda tanto, não só de políticas públicas, mas também de atração de investimentos privados.


2. A IMPORTÂNCIA DA POLÍTICA PÚBLICA NA ÁREA DA CULTURA

Eu acho que hoje, como qualquer segmento de indústria, o audiovisual é uma indústria.

Para você ser competitivo no mundo global, você precisa ter políticas públicas que permita que as empresas consigam ser mais efetivas no mercado.

Então, você vê, agronegócio tem suas políticas públicas, siderurgia tem suas políticas públicas, indústria têxtil, qualquer indústria tem uma política pública que é para você aumentar a concorrência.

E como é que a gente vai conseguir, cada vez, mais em um mercado que é global, competir se a gente não tem uma política de governo que auxilia a sua presença no mercado?

Além dessa parte da indústria do mercado, você também tem a cultura, a soberania de um país.

Se você não incentiva a produção cultural do seu país, o resgate antropológico, o desenvolvimento de entretenimento tem a cara de seu país, você não vai conseguir desenvolver um cidadão que tenha orgulho de seu país e que possa levar adiante todos os valores que a gente tem que inserir na em na nossa cultura.


3. O DESAFIO DE ACOMPANHAR UM SETOR EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO

Eu entrei na parte de publicidade quando eu comecei a trabalhar, então era estagiário.

Depois fui fazer atendimento com as empresas de publicidade e chegou uma hora que eu falei, não quero mais trabalhar com publicidade, porque é um segmento que está produzindo muita coisa, num ritmo muito intenso.

Mas você não vê tanto valor naquilo, um valor simbólico, e resolvi optar por procurar outros caminhos.

Veio a ideia de entrar com uma associação, uma vez conversando com um grande amigo meu e ele me falou: “Por que você não vai ver uma associação, tem um pouco a sua cara, você gosta dessa questão das políticas, das normativas, da regulação do setor?”

E foi aí que eu entrei, na época a Bravi se chamava ABITV - Associação Brasileira Independente de Televisão, isso lá em 2012 e estavam precisando de alguém para cuidar da parte mais focada no Brasil.

Isso porque tinha acabado de ser aprovada a lei 12485, que é a lei do serviço de acesso condicionado, que é a lei da TV paga e a produção ia deixar de ser centralizada só no Rio e em São Paulo por ter mais políticas públicas nas outras regiões.

Então acho que esse foi o primeiro desafio; como é que a gente consegue pegar produtoras que estão pelo Brasil e criar uma consciência nessas empresas que elas também podem ver o conteúdo delas na TV paga, na TV aberta, produzir sua própria propriedade intelectual?

Então acho que esse foi o desafio de amarrar as regiões do Brasil.

Você tem um produto, um audiovisual brasileiro, de fato, não só audiovisual Rio de Janeiro e São Paulo.

E no decorrer da história tiveram outros desafios, continuar a capacitar essas empresas.

Então a gente viu, desde 2012 até hoje, o surgimento das plataformas de streaming, o Netflix, Amazon Prime.

Isso mudou completamente o segmento!

Antes a produtora produzia para o cinema, para a sala de exibição.

Depois ela passou a ter a chance de produzir na TV paga.

Aí depois surgiram as plataformas.

Então, todo dia é um desafio novo para você tentar entender esse mercado, como ele funciona, quais são as oportunidades de negócios das empresas e que tipo de apoio dessas empresas vão precisar.

Pode ser um apoio da capacitação dos profissionais executivos, a elaboração de novas políticas públicas ou o aperfeiçoamento das existentes, como se faz para atrair mais investimentos privados, como a gente coloca os produtores num lugar de destaque nessa indústria que é global...


4. OS FUNDOS MANTENDO O SETOR - OS INVESTIMENTOS PRIVADOS CONSTRUINDO CARREIRAS

A gente vê, por exemplo, que hoje existe o fundo setorial do audiovisual, que é a principal iniciativa pública para o fomento da cadeia do audiovisual.

Ele é um fomento que iniciou em 2008 e até hoje a gente tem as linhas a surgir.

Eu acho que o audiovisual, hoje, não teria tanto destaque se não tivesse esse investimento sendo feito na indústria por um período tão longo.

A gente está falando de 14 anos do fundo setorial existindo, então, a quantidade de obras que já foram realizadas, quantidade com que os brasileiros já foram distribuídos, você conseguiu criar uma indústria.

A gente não teria uma indústria tão ampla, com tantos produtores trabalhando, se a gente não tivesse esse investimento a longo prazo.

Por outro lado, eu também acho que o investimento privado, a longo prazo, é importante.

A gente tem uma indústria estabelecida no Brasil, a gente tem um grupo Globo, a gente tem as plataformas de streaming, que já estão no Brasil, a TV paga também vem investindo.

Então qual a importância de ter esse investimento?

Primeiro, um profissional que entra hoje na indústria e enxerga isso como uma profissão de fato, se não está ali fazendo um trabalho que é só cultural, que você vai depender disso.

Tem uma carreira que eu posso seguir, do investidor ter a segurança que ele pode investir

É uma indústria que ela tem recurso rodando ao longo prazo, então ele sabe que esse investimento que vai fazer pode ter um retorno a curto, médio ou longo prazo e também atração de investimento estrangeiro no país.

A gente participou muito de evento no mercado Internacional.

Em 2015, 2016, as empresas olhavam para o Brasil, lá de fora e falavam, “vocês estão com uma indústria que está crescendo, vamos continuar investindo em vocês, quero estar aí com vocês”.

Claro, a gente está num momento de concorrência muito grande, você vê países que têm políticas públicas mais avançadas, por exemplo, Coreia do Sul, que é difícil de concorrer, Espanha também.

Mas a gente ainda tem uma posição de destaque no mercado internacional, justamente porque faz muito tempo que a gente vem investindo de uma forma contínua.


5. A PANDEMIA PARALISANDO O AUDIOVISUAL E INCENTIVANDO A ANIMAÇÃO

Sim, eu acho que a gente está passando pelo período que vem antes dessa pandemia.

Desde 2018, que teve uma diminuição muito grande nos investimentos no setor público, mas eu acho que a pandemia, ela meio que paralisou as produções.

Primeiro por conta dos protocolos.

O audiovisual é o segmento que você tem gente atrás das câmeras, à frente das câmeras, você tem tudo aquilo que envolve o pessoal, então tem setor de gastronomia, de logística.

E no momento que fala para tudo, as produções pararam de serem filmadas e acontecem, geralmente em locações urbanas, então não se podia mais filmar, então atrapalhou bastante.

A gente teve que chegar a praticamente zero filmagens, então a gente ficou uns 4-5 meses sem filmar, mas começou a retomar.

Por outro lado, outros segmentos da indústria, por exemplo, a produção de animação, eles não foram afetados porque as pessoas já trabalhavam remotamente, muitos animadores, profissionais da indústria de animação, já estavam longe de casa e aí permitiu que continuassem trabalhando.

Claro que ainda aumentou a quantidade de serviço que estavam emprestando, porque eles não precisavam parar e a indústria precisava continuar a fazer publicidade, continuar a fazer conteúdo, e aí eles acabaram optando por fazer conteúdo em animação ao invés de live action, quando você tem pessoas sendo filmadas.

Então com certeza a pandemia atrapalhou e ainda atrapalha, mas por outro lado, a gente vê que tá passando.


6. FUTURO PROMISSOR: EXPORTANDO CONTEÚDO

Eu vejo o futuro com bons olhos.

Eu acho que primeiro tem a questão da ampliação do número de janelas.

Cada lugar que é exibido um conteúdo, é uma janela, então hoje a gente vê um crescimento no número de janelas.

Antigamente a nossa opção era TV aberta, sala de exibição (cinema), hoje você tem todas as plataformas de streaming do mundo, então hoje audiovisual é global.

A gente não é mais um nicho dentro do Brasil, a gente consegue produzir para o mundo todo.

O Brasil hoje exporta conteúdo para mais de 180 países, então falta pouco pra gente atingir o mundo inteiro.

A gente consegue ter essa entrada global, então quanto mais janelas, quanto mais o público internacional se interessando por conteúdo que não é mais a língua original.

Eles não se importam mais se o conteúdo é legendado, dublado.

Antigamente você entrava no mercado norte-americano, tinha que ser inglês nativo falando, para o mercado brasileiro, é muito difícil de entrar, os outros países da Europa também tinham muito isso.

Os países que não falavam a língua portuguesa, não aceitavam muito conteúdo brasileiro legendado ou dublado, era muito difícil ter essa entrada.

Hoje não, com as plataformas de streaming, as pessoas se acostumaram a assistir conteúdo em outros idiomas, mesmo que seja legendado.

Então é uma indústria que tende a crescer cada vez mais.

A gente vê com bons olhos, mas claro que é um trabalho muito árduo, porque cada vez mais a concorrência fica mais acirrada.

Porque todo mundo sabe que você consegue produzir para todo o mundo.


7. A FALTA DE UM OLHAR ESTRATÉGICO

Mesmo tendo esse cenário positivo, eu acho que ainda falta muito apoio Federal, como uma indústria.

Porque o audiovisual, como toda economia criativa em geral, é uma indústria muito nova.

Ainda mais o audiovisual que é feito para a televisão, para novas mídias, é um mercado que se você não tem um investimento para promover oportunidades de negócios com as empresas.

Por exemplo, a gente tem o Brazilian Content que é o nosso programa de exportação.

Ele foi criado a partir de uma instituição que era na época BITV, com o governo federal, através do Ministério da cultura e da Abex - Agência Brasileira de Exportação, isso foi feito ao longo de 10-12 anos.

A partir do momento que a gente deixou de ter os recursos da Abex, que era quem financiava o projeto, a gente deixou de ter uma participação nos mercados internacionais, e todo custo, para você estar lá fora, passou para o lado do produtor.

Então imagina que até 2019, a gente conseguia ter estandes nas feiras internacionais, a gente conseguia subsidiar a parte dos produtores, que era um investimento que a gente estava fazendo, federal, mas que tinha um retorno muito grande financeiro.

A partir do momento que a gente deixa de ter esse investimento, deixa de ter essas políticas que você tinha participação, a gente começa a se colocar em risco e ver isso como um desafio para dar continuidade.

Então acho que o principal é a falta de uma iniciativa a longo prazo e sólida, para a participação dessas empresas no mercado Internacional.

E eu também acredito que hoje, a falta de uma regulação no Brasil, atrapalha muito a visão das plataformas estrangeiras sobre investimentos no país porque.

Por exemplo, a França acabou de aprovar a legislação, onde as empresas já sabem o que vai acontecer, ela sabe que amanhã não vai mudar.

O Brasil é oposto, vamos investir no Brasil porque não existe uma regulação lá, mas agora começou a surgir o receio de e se surgir a regulação.

Como é que a gente fica?

Isso faz com que eles tirem um pouco o pé.

Então eu acho que falta esse olhar estratégico pro audiovisual brasileiro, do ponto de vista de mercado.

Para o ponto de vista cultural, a gente tem os editais em todos os níveis, municipal, estadual e federal que permite a produção de conteúdo, mas eu acho que do ponto de vista de indústria, falta um olhar mais delicado pra mercado.