Thinkers em Ação

Márcia Kitz

Conselheira da OBME Organização Brasileira de Mulheres Empresárias, Diretora de Expansão da ADVB Mulher

Profissional com mais de 50 anos de experiência no mercado financeiro, ativamente atuando como consultora financeira na área de investimentos. Primeira Gerente Mulher do extinto Banco Real, onde trabalhou por 39 anos.

Past President da BPW Business Professional Women SP.

Atual Conselheira da OBME Org. Brasileira de Mulheres Empresárias, Diretora de Expansão da ADVB Mulher, e outras entidades correlatas.

30% CLUB BRASIL

O 30% Club é uma campanha global liderada por Presidentes de Conselho e CEOs que tomam medidas concretas para aumentar a diversidade de gênero nos conselhos e na alta liderança das empresas.

A campanha continua a se expandir internacionalmente nos países do G20, com presença atual em dezoito países / regiões ao redor do mundo.


ENTREVISTA

Márcia Kitz

05 de dezembro de 2022

Oriana White

MODERADORA

Juliana Lotti

TRANSCRIÇÃO

 

A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES NOS CONSELHOS


Foi criada uma campanha, mas vai perguntar: se chegar nos 30% o que acontece; termina?

Não, a gente vai para 50%, que seria o ideal em termos de diversidade.

Agora enquanto isso, as coisas vão acontecendo e a gente vai, talvez, mudando os caminhos ou então, pelo menos, pra poder manter.

Nós fizemos parceria com quase 30 entidades voltadas à mulher.

Tem várias entidades que hoje se “descongregam” (e criam outros grupos) com várias mulheres.

Por exemplo na área de direito, na área de mulheres do imobiliário, mulheres do agronegócio, mulheres administradoras, mulheres executivas, financeiras, então a gente fez quase 30 parcerias, até o momento, justamente para que a gente criasse força, porque sozinho a gente não faz nada.

É importante porque as pesquisas diversas no mundo todo, relatam que a participação da mulher nos conselhos, traz um benefício inclusive financeiro, e também que ela propicia a participação de outras mulheres, em outros níveis.

Então quando ela assume o conselho, ela tem como trazer outras mulheres para participar.

Importante é isso, é igualdade que a gente sabe que o mundo inteiro, hoje, está buscando isso, porque está provado que a diversidade melhora a qualidade de vida do nosso trabalho.

Transcrição Integral


TÓPICOS DA ENTREVISTA


  1. Um pouco sobre Marcia Kitz
  2. Mulheres nos conselhos: ainda coisa rara
  3. A importância das mulheres nos conselhos
  4. Estudos mundiais sobre a mulher
  5. A montagem de índices a partir das pesquisas mundiais
  6. Os benefícios que a pandemia trouxe
  7. O desafio da falta de recursos financeiros e humanos
  8. Como ter um bom começo

1. UM POUCO SOBRE MARCIA KITZ

Sempre falo que eu sou jurássica, porque eu comecei a trabalhar muito tempo atrás.

Em 1969 eu fui praticamente ocupar a função de gerente do banco que eu trabalhava e fui a primeira gerente mulher de banco de São Paulo.

Eu nunca senti muita dificuldade de relacionamento, mas pelo fato de ser mulher, eu senti a necessidade de um apoio maior, e foi buscar uma entidade que eu vi no jornal, uma associação de mulher de negócios e profissionais.

Estavam fazendo um almoço, tinha algumas palestrantes mulheres e eu achei que seria interessante eu participar de uma entidade assim pra conhecer outras mulheres e saber como que elas tinham chegado lá, sentir uma força maior, uma união maior.

Eu fui, realmente foi ótimo porque conheci mulheres de todas as profissões, uma diversidade muito grande e eu fiquei lá durante 34 anos.

Eu presidi essa entidade 3 vezes e na última, eu realmente achei que precisava buscar uma coisa mais avançada, porque se você analisar, naquela época só tinha essa entidade feminina e hoje nós temos milhares e aí eu fui buscar uma outra entidade que é o 30% Club Brasil, com sede em Londres.

É uma ONG que praticamente faz campanha mundial que objetiva a participação de mais mulheres nos conselhos de administração, então é mais ou menos essa minha história.


2. MULHERES NOS CONSELHOS: AINDA COISA RARA

Quando a gente trouxe essa campanha aqui pro Brasil, nós estávamos naquela época com a participação de 7,7% de mulheres nos conselhos de administração, e a gente foca as empresas que compõem o índice IBrX-100 da bolsa.

Tínhamos 7.7% de mulheres, sendo que 4% era de herdeiras, então praticamente a gente tinha 3.5% de mulheres nos conselhos e aí essa entidade 30% Club, justamente tem esse nome, porque nossa meta é chegar em 2025, com pelo menos 30% de mulheres nos conselhos, e esse número porque, está provado estatisticamente, que a partir de 30% você consegue ter uma massa maior para poder ter algum valor, então 30% foi o número escolhido e a gente trabalha em função disso.


3. A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES NOS CONSELHOS

Foi criada uma campanha, mas vai perguntar: se chegar nos 30% o que acontece; termina?

Não, a gente vai para 50%, que seria o ideal em termos de diversidade.

Agora enquanto isso, as coisas vão acontecendo e a gente vai, talvez, mudando os caminhos ou então, pelo menos, pra poder manter.

Nós fizemos parceria com quase 30 entidades voltadas à mulher.

Tem várias entidades que hoje se “descongregam” (e criam outros grupos) com várias mulheres.

Por exemplo na área de direito, na área de mulheres do imobiliário, mulheres do agronegócio, mulheres administradoras, mulheres executivas, financeiras, então a gente fez quase 30 parcerias, até o momento, justamente para que a gente criasse força, porque sozinho a gente não faz nada.

É importante porque as pesquisas diversas no mundo todo, relatam que a participação da mulher nos conselhos, traz um benefício inclusive financeiro, e também que ela propicia a participação de outras mulheres, em outros níveis.

Então quando ela assume o conselho, ela tem como trazer outras mulheres para participar.

Importante é isso, é igualdade que a gente sabe que o mundo inteiro, hoje, está buscando isso, porque está provado que a diversidade melhora a qualidade de vida do nosso trabalho.


4. ESTUDOS MUNDIAIS SOBRE A MULHER

Existem diversos estudos nessa área e principalmente nós temos as Big Four, as empresas de auditoria, que todo ano fazem isso e fazem muito bem, a PwC, por exemplo, que é nossa parceira, faz esses estudos voltados à mulher.

A Deloitte Touche Tohmatsu. Eles fazem também o panorama da mulher, eles fazem uma pesquisa muito boa também, então tem várias empresas que fazem esse trabalho, e temos os estudos internacionais, a McKinsey, e várias empresas que fazem esses estudos.

A gente junta as informações, e praticamente usa esses dados. Nós mesmos não fazemos, mas temos os parceiros que fazem.


5. A MONTAGEM DE ÍNDICES A PARTIR DAS PESQUISAS MUNDIAIS

Nós fazemos um índice, em colaboração com a PwC, que é o índice da posição de mulheres nos conselhos dessas empresas que estão na Bolsa de Valores.

Quando a gente começou era 7.7% naquela época e hoje nós estamos crescendo devagar, mas estamos nos 17% de mulheres nos conselhos.

Nossa meta até 2022 era ter pelo menos uma mulher em cada uma dessas empresas, mas não conseguimos esse total, mas nós temos até 2025 para conseguir esse total.


6. OS BENEFÍCIOS QUE A PANDEMIA TROUXE

Você sabe o que é interessante, eu fico analisando isso da pandemia, porque houve um benefício também.

Por exemplo como você conseguiria reunir a quantidade de entidades parceiras para discutir qualquer assunto e de uma maneira mais eficaz, mais fácil, um pode, outro não pode, é longe, é trânsito,

Nós estamos em busca de universidade de negócios, de cursos para conselheiras e esse programa já deu muito certo em alguns países fora do Brasil e outro dia nós começamos, temos um grupo fazendo esse levantamento pra gente conseguir vagas para as nossas conselheiras.

A gente descobriu que na Irlanda estava muito muito bom esse estudo, avançado, então em dois minutos já marcamos uma reunião com a Irlanda, um monte de gente, em Portugal, nos Estados Unidos, outras em São Paulo já marcamos uma reunião, trocamos ideias e foi ótimo, e já começou o planejamento.

Eu acho que não podemos só culpar a pandemia, porque temos de ver o lado bom que ela apresentou.


7. O DESAFIO DA FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS E HUMANOS

Nós somos voluntárias, não temos vínculo nenhum, inclusive não temos fundo para nada, tudo o que fazemos é justamente com as parcerias.

Então se temos que fazer um webinar, nós temos a Tecmac tecnologia que nos ajuda a fazer, construir o webinar, a Bloomberg nossa parceira aqui no Brasil e no exterior.

Essa seria uma limitação porque não tem como planejar passos maiores porque não tem movimentação financeira nenhuma.

Segundo, justamente por ser voluntariado, tem pessoas muito boas que nos ajudariam bastante pois a gente precisa de braços, mas por ser voluntariado, a maioria das pessoas que a gente imagina, já estão muito ocupadas.

Temos dificuldade de conseguirmos pessoas do um nível que a gente precisa.

Nossa missão é chegar nos 30% e quando chegarmos, vamos aumentar para os 40, 50, mas temos que ter um limite.

Porém nada impede que, depois de você construir toda essa estrutura, você transforme isso numa outra empresa que dê continuidade, porque tem os projetos bons, tem tudo a ver.


8. COMO TER UM BOM COMEÇO

Quando eu comecei minha vida profissional e eu fui promovida a gerência, eu senti, logo no começo, que as mulheres sentiam uma certa ciumeira pelas outras mulheres que iam crescendo.

Com o tempo, por estar naquela associação de mulheres, já tinha sentido a mesma coisa.

Com o tempo deu para perceber que você estando junto, você ajudando a outra, usando a tal da sororidade, você se fortalece, então isso mudou, graças a Deus mudou.

Hoje você vê, tem uma infinidade de entidades de mulheres, associações que foram criadas, então acho que o principal é você ter um bom relacionamento, você se unir à outras mulheres que têm o mesmo ideal.

No caso de ideal, eu acho importante você identificar mulheres que vão somar e te ajudar, entre aquelas que “dão passagem”, quando você está dirigindo, dificilmente a mulher deixa passar, eu não, eu sempre deixei passar, sempre, mesmo que não seja obrigatório, então eu acho que a mulher que dá passagem para as outras, ela consegue resultado melhor.

A outra coisa importante é que não temos essa imagem de que a mulher está contra o homem, pelo contrário, tem que somar, um complementar o outro, e não agredir, não competir.

Tem inúmeras mulheres que devem, praticamente todo o seu sucesso, a grandes homens que deram passagem para elas.

Um conselho que eu posso dar é ter muita garra, muita determinação, que realmente queira lutar por isso e confiança, aí a gente chega lá.