O Passo a Passo para Captar Recursos de Forma Eficiente
Thinkers Brasil tem como um dos seus objetivos verificar quais os principais desafios percebidos pelos Think Tanks brasileiros.
Um dos mais citados foi a captação de recursos cujo esforço toma grande parte do tempo destas organizações.
Assim, em seu programa THINKERS EM AÇÃO realizou uma série de entrevistas feitas com grandes dirigentes de Think Tanks brasileiros com o objetivo de entender o processo envolvido nesta atividade.
Foram realizadas 21 entrevistas com dirigentes de Think Tanks e consultores na área de captação de recursos e abaixo seguem os principais resultados.
A captação de recursos é um processo vital:
“Em um Think Tank efetivo, as grandes pautas não ficam em cima dos objetivos da organização, mas em como viabilizar esses objetivos.”
Segundo as grandes lideranças, 95% de seu tempo é dedicado a “conseguir recursos”, sendo que ela deveria trabalhar lado a lado com o propósito do Think Tank para que este se viabilize ao longo do tempo.
Mesmo advogando por uma causa grandiosa, ela não se sustenta se não tiver recursos para ser trabalhada da forma adequada.
As 5 principais perguntas que um investidor faz para decidir em quem colocar seus recursos:
- O propósito é importante para a sociedade? Me identifico com ele?
- Quem faz parte do conselho? Quem é o principal líder?
- Como estão os documentos? Os relatórios estão em dia? Tem auditoria? Há transparência?
- Qual o conjunto de práticas, ações e projetos? Eles têm a ver com a questão ESG? Quais os resultados obtidos?
- Existe um plano de negócio ou planejamento estratégico bem elaborado para o próximo ano? É claro e objetivo?
O propósito
A causa precisa ser importante para a sociedade, para o Think Tank, e para o investidor e sua história precisa referendar a própria identidade e qual o legado que ela se propõe a deixar.
O conselho
O conselho do Think Tank é um critério de escolha para o investidor, que observa se o board está comprometido com a causa, se há pessoas inovadoras, visionárias, pensadoras, com diferentes perfis e segmentos da população.
Além disso é levado em consideração se existe força deste conselho para buscar recursos e como são feitas suas reuniões (se são objetivas, com pautas claras e atas concisas sobre como avançar).
Os relatórios
Os relatórios são muito importantes e devem ser fundamentados em pesquisas com dados primários ou compilados de outros estudos científicos.
Eles devem ser precisos, de fácil compreensão, devem ser passíveis de auditagem e disponíveis ao público.
O relatório precisa fortalecer a convicção do investidor de que ele está aplicando bem seus recursos e ações e projetos com critérios ESG intensificam esta convicção.
Neste sentido as perguntas que surgem são:
Ambiente: o Think Tank tem responsabilidade com o meio ambiente e realiza ações climáticas positivas?
Social: ele cobre questões sociais e busca bem-estar para os colaboradores, fornecedores, parceiros e sociedade em geral?
Governança: o Think Tank segue as práticas de governança de forma responsável, transparente e disponibiliza seus dados publicamente?
O Planejamento
Um plano de negócio bem elaborado mostra compromisso e profissionalismo.
Com todas suas partes: premissas, objetivos, análise SWOT, projetos e programas já realizados e estatísticas de resultados, bem como deixando claro quais projetos e programa estão sendo planejadas e quais as expectativas de sucesso.
Muito importante também é saber qual o plano, em que prazos e quem mais participa do financiamento.
A comunicação mostrou-se um eixo central para a performance do Think Tank
O setor de captação de recursos é altamente profissionalizado, complexo e fundamentado na credibilidade e na imagem do Think Tank, que devem ser construídas por uma comunicação precisa e eficiente.
O valor da parceria sólida
O primeiro investidor tem um sabor especial pois permite que o sonho do Think Tank comece a se tornar realidade.
Neste sentido, nada mais importante do que construir um relacionamento duradouro, onde o contato é contínuo, quase diário e onde existe uma extensão do interesse pela causa e a vontade de transformar o mundo.
“O financiador deve ter orgulho de seu trabalho e você de tê-lo como apoiador!”
A força do reconhecimento
Um elemento importante é o reconhecimento público do que está sendo feito pois renova as parcerias e fortalece os vínculos já criados, inclusive demonstrando a credibilidade da instituição.
A internacionalização
A busca de novos mercados é um aspecto cada vez mais importante, segundo os líderes entrevistados. Ficar atento às tendências, às pautas mundiais, e manter sempre a conexão com órgãos importantes, como ministérios, embaixadas, universidades de fora é vital.
Hoje em dia, com as plataformas e a possibilidade de contatos assíncronos, tudo é mais fácil.
Os diferentes potes de ouro
Com o tempo, descobre-se que existem diferentes fontes de recursos, cada uma com sua especificidade. Financiamento para curto ou longo prazo implicam em duas estratégias diferentes. Elas podem ser: privadas ou públicas, de curto ou longo prazo, podem envolver doações ou mesmo carteiras de associados ou mesmo crowdfunding.
Fontes Privadas: Pode ser por projeto, especiais para uma fase inicial, em geral tem valores menores e resultados mais a curto prazo.
Fontes Públicas: em geral possuem muitas regras, são mais difíceis de conseguir, despertam bastante credibilidade e certificam para o financiamento privado.
Curto prazo: são em geral investimentos por projeto, com um menor compromisso, mais pontual e verbas mais fáceis de conseguir.
Longo prazo: na maioria das vezes são diálogos setoriais, onde a advocacy faz parte; são relações mais compromissadas com maior identidade com a causa.
Doações: O brasileiro não tem a cultura da doação, poucos sabem como doar, não há divulgação, nem bom retorno no Imposto de Renda. Parece ser que o brasileiro ainda não encontrou sua identidade social, segundo alguns especialistas apontam.
Associados: Essa fonte de recursos apenas garante a manutenção do dia a dia.
Crowdfunding: é uma possibilidade ainda engatinhando.
“A relação com o investidor é um casamento, a junção é uma festa, para continuar precisa crescer junto; quando existe um divórcio, isso deixa todos à deriva, é um processo doloroso que acaba fragilizando a causa em si.”
Os 10 mandamentos para ter sucesso nos processos de captação de recursos:
- – Ter um propósito claro e simples, que mobilize naturalmente as pessoas
- – Fazer parceria com quem tem o mesmo propósito ou com empresas/órgãos com quem haja afinidade
- – Estruturar a área de captação e de comunicação vinculadas
- – Construir uma história que vincule o financiador. Há diversos exemplos, entre eles as Havaianas e Ecologia
- – Necessário ter liderança que gere credibilidade, e seja agregadora
- – Cuidar das pessoas internas e inspirá-las a continuar
- – Estar atento às oportunidades que surgem
- – Realizar eventos exclusivos ou antecipados para os financiadores, como entrega de livros, treinamentos e cursos exclusivos
- – Ser internacional, global e digital
- – Ficar atento a editais nacionais e internacionais, de governos e embaixadas de outros países, de fundações e universidades reconhecidas pelo mundo.]
Um dos casos mais conhecidos, duradouro e premiado é a parceria feita entre o IPE- Instituto de Pesquisas Ecológicas e a Alpargatas mediante sua divisão Havaianas. Vejam a entrevista neste vídeo, um grande case a ser seguido.