Mulheres Evangélicas, Política e Cotidiano
Mulheres evangélicas para além do voto: concepções sobre política e cotidiano
A partir da compreensão, construída por pesquisas de opinião recentes, de que as mulheres evangélicas teriam papel crucial nas eleições nacionais de 2022, o Instituto de Estudos da Religião (ISER) realizou, durante os meses de maio a julho de 2022, a pesquisa “Mulheres evangélicas, política e cotidiano”.
A investigação teve como objetivo produzir dados qualitativos que trouxessem novas perspectivas sobre mulheres evangélicas. É importante destacar que são as mulheres negras e pobres que compõem quase 60% deste segmento religioso. Portanto, mais do que compreender exclusivamente sua percepção sobre as eleições e voto, a pesquisa explorou percepções sobre política e cidadania articuladas à vida cotidiana.
Metodologia e perfil das entrevistadas
Para isso, foi realizada uma investigação no regime de tríades – entrevista mediada com grupo de três mulheres reunidas por mesclas de amostragem e mesma faixa etária, durante cerca de duas horas. Uma equipe de oito pesquisadoras mediou as 15 tríades que reuniram 45 mulheres entre 16 e 65 anos, de todas as regiões do Brasil, de diferentes faixas etárias, cores e classes sociais. As entrevistadas pertencem às classes C e D. A maioria se declarou parda, seguida por brancas, pretas e uma amarela. Deste total, 28 são mães, número que inclui 18 casadas, oito solteiras, uma divorciada e uma viúva. A maioria das mulheres, 23, votou por Jair Bolsonaro (PSL) em 2018, sete votaram em Fernando Haddad (PT) e 16 anularam o voto ou não votaram. Foram entrevistadas mulheres evangélicas de primeira, segunda e terceira gerações, isto é, aquelas que se converteram depois de professar outra religião e aquelas que já nasceram em famílias evangélicas. Sobre o pertencimento a uma igreja, foram entrevistadas 27 mulheres do ramo pentecostal (incluindo o neopentecostal) e 18 do histórico, incluindo igrejas batistas renovadas. A pesquisa identificou, a partir dos relatos, que as fiéis evangélicas praticam um intenso trânsito religioso entre igrejas diferentes, migrando de acordo com preferências de ordem prática ou afetiva e de sensibilidades, como desistência de participar de igrejas onde não se sentem acolhidas ou onde pessoas julgam umas às outras.
As mulheres também não se conheciam e frequentavam igrejas evangélicas de diferentes ramos do segmento, em endereços distintos. A maior parte das entrevistadas frequentava igrejas pentecostais ou históricas renovadas, pertenciam às classes C e D e eram majoritariamente negras (pretas e pardas). Os dados completos sobre o perfil das entrevistadas e os principais pontos levantados na pesquisa podem ser encontrados neste link.
Autores: A pesquisa foi coordenada por Jacqueline Moraes Teixeira (UnB/ISER) e Lívia Reis (ISER/UFRJ) e contou com assessoria de pesquisa de Ana Carolina Evangelista (ISER/CPDOC) e João Luís Moura (Mackenzie); Felipe dos Anjos como assistente de pesquisa; e Ana Carolina Costa (Unilab), Chirley Mendes (UFNT), Fabiana de Andrade (USP), Juliana Farias (Unicamp), Lorena Mochel (UFRJ), Magali Cunha (ISER), Sabrina Almeida (Cebrap) e Tatiane Duarte (UnB) foram as pesquisadoras colaboradoras.
Fonte: ISER